sábado, 31 de março de 2012

INFORMES

            Olá galera, tudo certo? Bem, antes de mais de nada faço uma saudação especial para Enio, Fabão, Fernando, Rodrigo, Veloso e Wallace por acompanharem o blog. Valeu também a galera que de uma forma ou de outra deu algum feedback sobre o blog. Muito obrigado!!!
            Antes de mais nada gostaria que soubessem que minha vida ficou bem mais agitada desde a última postagem, diminuindo consideravelmente meu tempo já exíguo (ainda procuro a equalização das minhas diferentes atividades). Mas, na medida do possível, o blog segue firme e forte. 

Informe 1: Estou devendo o retorno da seção CLÁSSICOS  DA VEZ. Semana que vem pretendo começar a fruição das obras escolhidas (Disco: London Calling/livro: Alice no País das Maravilhas/HQ: Blues/filme: Táxi Driver). Vou tentar em mês trazer minhas considerações sobre esses clássicos;

Informe 2: Estou devendo também a segunda parte do texto "Sobre o ser filósofo, escritor e educador". Como falei acima, esses últimos dias foram bem movimentados. Apareceu uma oportunidade numa importante escola particular aqui do Recife, o que me fez direcionar minha atenção para o processo seletivo. Semana que vem (possivelmente no final de semana) publicarei a conclusão desse texto.

Informe 3: Criei a página Ócio Criativo para organizar minhas experiências relacionadas a busca de uma  relação de trabalho menos alienante. Também na próxima semana, trago o retorno das atividades que por hora estou envolvido. São os seguintes os projetos que estou envolvido: Cartilha Tecnológica, Cartilha Educativa Transpetro/PETROBRÁS (com a Livrinho de Papel Finíssimo), Coleção Didática (com a Livrinho de Papel Finíssimo), os blogs (é, blogs! Crei mais dois para experimentar uma nova proposta pedagógica na escola com a qual irei colaborar) e Direção do Sindicato dos Professores de Pernambuco (SINPRO).

           E por falar em SINPRO, tô saindo agora para participar de uma discussão sobre a campanha salarial desse ano. Depois compartilho como foi!!!

Um forte abraço e até breve,


Zebé Neto
filósofo, escritor e educador

sexta-feira, 23 de março de 2012

Sobre o ser filósofo, escritor e educador

Hoje, 23 de março de 2012, completo 38 anos. Aproveito a data para fazer uma reflexão sobre quem sou eu, como me vejo hoje, depois de ter vivido tantas identidades diferentes desde que me percebi na adolescência. Qual identidade, ou melhor, quais identidades me representam? É o que irei compartilhar com vocês nesse texto.
Nos últimos meses meu entusiasmo com a tecnologia tem crescido tanto que já possuo inclusive página no facebook e um blog (a demora em me encantar com a tecnologia deve-se a minha antiga identidade, que não era muito chegada ao universo tecnológico, retardando muito minha inclusão digital).  A questão que pretendo discutir com vocês nasceu quando precisei, seja ao assinar um texto, ou falar da minha ocupação, dizer o que eu era ou o que fazia. Dizer o que “se é” ou que ”se faz” é falar sobre a categoria da identidade.
Num primeiro momento, não tive dúvida: “Sou filósofo! Ora, o filósofo não é aquele que é amigo do saber, que busca o conhecimento? É justamente isso o que sou e faço.” Logo em seguida, pensei: “Opa, também sou escritor, afinal, o que é isso que estou fazendo agora ao escolher as palavras mais adequadas para me expressar?" Mesmo que alguém não aprecie o que digo, não pode negar que escrevo.  Definitivamente, sou escritor.   
Não demorou e o Zebé educador surgiu: sempre fora evidente para mim que todo filósofo, que deve ter seu pensamento organizado de forma escrita, sendo, portanto, escritor, é também um educador, pois ao exercer seu ofício está procurando mostrar outras possibilidades de vermos o mundo, transformando, ou seja, educando, nosso olhar.
            Era isso! Não vacilei e digitei: filósofo, escritor e educador!
Logo meu senso crítico-reflexivo entrou em ação: “Espera aí, o que as outras pessoas vão achar disso?” Alguém poderia pensar: “Metido ele, não? Onde já se viu! Filósofo de verdade tem que ter no mínimo doutorado!” Outra pessoa poderia dizer: “E ainda se diz escritor, nunca li nenhum livro dele.” Ou então: “Mas a maior petulância é se achar educador, Paulo Freire deve estar se revirando! Nunca vi um método de ensino que não viesse dos grandes mestres, como o de Paulo Freire!”
Apaguei tudo imediatamente. Mais uma crise havia se instaurado! Mas, como vocês sabem muito bem, momentos de crise são também momentos de revisão, de retomada, de possibilidades, enfim, de abertura para o novo. Imediatamente, apelei para uma habilidade que aprendi recentemente com um pensador bem relevante para o pensamento não só pedagógico, mas também sociológico e epistemológico, Philleppe Perrenoud, a capacidade de “reflexão na ação”, e resolvei digitar novamente, me referindo a mim mesmo: filósofo, escritor e educador.
Antes, porém, de falar por qual razão me identifico com os atributos que caracterizam tais identidades, abordarei o conceito de identidade.
Identidade é a tomada de consciência daquilo que se é. O termo se refere à identidade individual e pessoal de cada indivíduo. Para Ivani Fazenda, renomada especialista brasileira em interdisciplinaridade, a identidade pessoal:

“é algo que vai sendo construído num processo de tomada de consciência gradativa das capacidades, possibilidades e probabilidades de execução; configura-se num projeto individual de trabalho e de vida.” E, claro, como nenhuma ser humano é uma ilha, “não pode ser dissociado de um projeto maior, o do grupo ao qual o indivíduo pertence, às suas vinculações e determinações histórico-sociais no qual o sujeito está inserido.” (Ivani fazenda, 1994, p. 48)
Não é difícil concluirmos que nossas “capacidades, possibilidades e probabilidades de execução” dos nossos projetos (de trabalho e de vida) estão diretamente ligadas ao nível de “consciência daquilo que se é”, ou seja, quanto mais nos conhecemos, mas somos capazes de nos realizarmos.  
De uns tempos pra cá, outra coisa não tenho feito se não construir minha própria identidade. Hoje tenho cada vez mais me realizado nas de filósofo, escritor e educador, as quais, autodidaticamente (já que a maioria de nós não aprende quase nada relevante nas instituições oficiais de ensino, de todos os níveis e todas as redes), tem assimilado criticamente.
Aproveito o dia de hoje para começar a compartilhar com vocês o que penso ser o filósofo, o escritor e o educador e por qual razão acredito ter os (pelo menos alguns) atributos que definem tais identidades.
Hoje foi a primeira parte, espero o quanto antes, postar a continuação. Fico por aqui, agradecendo a você que decicou  seu precioso tempo para me ouvir.

Obrigado e até breve,

Zebé Neto
filósofo, escritor e educador  

terça-feira, 13 de março de 2012

CLÁSSICOS DA VEZ (primeiras escolhas)

          Quem já andou lendo a página CLÁSSICOS DA VEZ viu que pretendo fazer do espaço uma forma de finalmente me dedicar à algumas obras (livros, hq's, discos, filmes) que todos nós sabemos fundamentais (de acordo com critérios sempre parciais e discutíveis), mas por razões diversas, não tivemos a oportunidade de contemplá-las.
          Quando postei o texto explicativo da página (que vc encontra logo acima), meu irmão, Veloso, comentou: "E aí, Zé? Quais são os clássicos da vez?" Na oportunidade disse que ainda tava me decidindo. Hoje porém, já possuo algumas escolhas.  Elas têm em comum o fato de poderem  ser  aproveitadas em alguma experiência pedagógica futuramente. Aí vão elas:

         Com relação aos quadrinhos, tô pensando em ler "Blues", de Robert Crumb, conceituado artista do movimento underground norte-americano, que mostra a visão do quadrinhista sobre esse estilo musical. Ocasião perfeita pra unir duas linguagens que são áreas de interesse do blog.
         O disco da vez virá do movimento Punk. Possivelmente, London Calling, do Clash. O movimento Punk é ótimo para trabalhar questões de Política, Ética, Estética, História, Economia, Sociologia, enfim, dá pra "lombrar" num bocado de coisa.
         A escolha do livro, que poderia perfeitamente ter partido de mim, já que podemos perceber elementos da filosofia em suas páginas, foi uma indicação de minha esposa, Sabrina. Ela, vendo que eu sempre procurava trabalhar os conteúdos filosóficos a partir de alguma obra de arte, constantemente dizia: "Você tem que ler esse livro! Tem tudo a ver com teu trabalho". O livro em questão era As aventuras de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Realmente, nunca li o livro. Já havia trabalhado com a história, mas através de adaptações. Chegou a hora de mergulhar na fonte.  
        Volto em breve para falar das primeiras impressões dos primeiros clássicos escolhidos  e pra revelar as duas escolhas que faltam: o disco e o filme da vez. Até mais!!!

                                                     ***

         Por enqunto, fiquem com o curta Palíndromo. Quem quiser sacar uma entrevista com o diretor, Philippe Barcinski, entra no endereço http://revistacatorze.com.br/2010/sobre-cinema-e-mercado-entrevista-com-philippe-barcinski. Aproveitem!!!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Mulher, futebol, cerveja e Rede Globo (Parte II)

Finalmente consegui finalizar a segunda parte do artigo sobre a tomada de posição da grande mídia em favor da opressão a qual a mulher é submetida em nossa sociedade. Antes, porém, um esclarecimento: os textos específicos de cada assunto contemplado nas páginas do blog (Ócio Criativo, ConsCiência, Filosofarte, etc.) eram pra ser publicados diretamente nas páginas. Acontece que estou tendo uma certa dificuldade para fazer isso. Coisas de neófitos digitais! Esse artigo, por exemplo, era pra ser publicado direto na página Média Mídia. Quando dominar melhor essa ferramenta, organizo os textos de acordo com os assuntos e coloco tudo nas suas respectivas páginas. Por enquanto vou publicando por aqui, na página inicial!
Sem mais delongas, fiquem com o texto "Mulher, futebol, cerveja e Rede Globo" (Parte II)
 
                                                           
                                                       ***


Na primeira parte do texto vimos que alguns estereótipos vão se cristalizando, fixando para a mulher valores, papéis e características considerados “naturais”. Analisaremos agora como a Rede Globo e a propaganda de cerveja reproduzem algumas dessas características, mais especificamente   a delicadeza, o altruísmo e o “instinto materno”.

“Muito além do jardim"
         
           Na manhã da última quarta, dia 07 de março, estava trabalhando num projeto que estou desenvolvendo na Escola Internacional de Aldeia (consultar página Projetos), quando escuto um dos âncoras do Bom dia Brasil, Chico Pinheiro, anunciar ao final de um bloco: “Tem mulher no futebol! Daqui a pouco você vai conhecer a vida das mulheres dos jogadores.” De imediato pensei: “como é que é? O dia é delas e destacam as mulheres dos jogadores? Isso dá um artigo!”. Eis aqui o resultado!
           Depois fiquei sabendo que essa era uma dentre uma série de cinco reportagens apresentadas no telejornal matutino da Globo, dentro das notícias esportivas (o que já dá uma primeira indagação: por que não abrir um espaço só para elas dentro do noticiário?), para homenagear as mulheres, intitulada “As mulheres no futebol”.
            Tive a oportunidade de ver três reportagens, a do dia 07 de março, que, como falei acima, destacava as mulheres de jogadores, a do dia 08, que mostrava as torcedoras e a do dia 09, trazendo “as pioneiras” (as primeiras árbitra, treinadora e presidente de clube). Apesar das três reportagens confirmarem minha tese de que a grande mídia reforça a opressão da mulher na sociedade, resolvi centrar minha análise na reportagem do dia 07, que falava das mulheres dos jogadores, pois ela é bem representativa do que quero defender aqui.
            Comecemos pelo próprio título da série: “Mulheres no futebol”. “estar no” futebol é diferente de “ser do”futebol. O que o título quer sugerir é que por mais espaço que a mulher tenha conquistado espaço no mundo da bola, ela ainda não é parte integrante do universo futebolístico, não constitui um elemento essencial “do” futebol, mas ao contrário, é um elemento acessório, acidental, pois está “no” futebol.
            A vinheta de abertura da série fazia referência ao universo futebolístico: torcida, estádio, bola. No final da vinheta podíamos ver uma enorme bola, envolta no Símbolo de Vênus (aquele círculo com uma pequena cruz embaixo que representa o gênero feminino) em tons cor-de-rosa, claro, para destacar a sensibilidade e a delicadeza feminina. Ora, enaltecer a intuição, a sensibilidade e delicadeza femininas, “significa diminuí-la em relação ao homem, capaz de elaborações intelectuais mais refinadas.”  (Aranha, 2006, p. 138)  
Para ilustrar a reportagem foram convidadas Camile Pasqualotto, esposa de Roger Machado, destaque na lateral esquerda do Grêmio na década de 1990, e Juliana Paradela, esposa de Luís Fabiano, atacante do São Paulo.
A reportagem abordou um estudo que Camile Pasqualotto, pós-graduada em Psicologia do Esporte, desenvolveu sobre a visão que as mulheres de jogadores têm sobre a profissão dos seus maridos e o papel delas em suas carreiras. Uma das conclusões que Camille chegou é que as mulheres dos jogadores abdicam de seus projetos pessoais e passam a viver a rotina deles. Elas também acreditam serem fundamentais para o sucesso profissional do jogador, oferecendo a tranquilidade necessária para um melhor desempenho do atleta.
Por curiosidade pesquisei um pouco e encontrei uma entrevista de Camille para o site Universidade do futebol. Em um trecho, ela diz: “as mulheres acreditam que abrindo mão de suas vidas pessoais e profissionais estão ajudando o marido a aumentar seus ganhos, dando o suporte para todo o restante”.
Ainda que a Rede Globo tente nos convencer de que mulher de jogador não precisa ser tão submissa assim (veja o caso da própria Camille, que não abandonou os estudos, chegando inclusive pós-graduação) o projeto da pesquisadora gira em torno da atividade realizada pelo marido, como, aliás, reconhece a própria Camille na entrevista ao site ao dizer que se interessou pela área de Psicologia do Esporte por acreditar que, com seus estudos, poderia ajudar muito o ex-gremista na profissão de jogador e agora como treinador. Ou seja, a relação apresentada é assimétrica, pois os interesses e atividades da pesquisadora giram em torno da atividade do marido.
Aqui entra a outra convidada, Juliana Paradela. Para ilustrar as conclusões da pesquisa sobre as representações das mulheres dos jogadores, o repórter (me parece que era Régis Resing, não me lembro bem) conversou com a esposa de Luís Fabiano. Típica representante do perfil da mulher do jogador, Juliana abriu mão de um projeto de vida autoral para se submeter à rotina do atacante do São Paulo. Chega, inclusive, a dizer que nos dois momentos mais felizes da sua vida, o nascimento de suas duas filhas, o jogador não pôde estar presente devido às atividades profissionais. Juliana também narrou outro fato marcante, dessa vez não tão feliz assim, quando Luís Fabiano, as vésperas de um jogo importante, ligou para ela no momento em que uma das filhas do casal ardia em febre. Para não abalar o marido, podendo comprometer seu rendimento no gramado, disse-lhe que estava tudo bem, “oferecendo a tranquilidade necessária para um melhor desempenho do atleta”.  A fala de Juliana em dois momentos específicos chamou muito minha atenção: quando Juliana usou o termo “altruísmo” para definir sua postura e quando disse que apesar dos percalços, faria tudo de novo.
Por que será que ao invés de destacar o protagonismo feminino, apresentando exemplos de mulheres que conseguiram, numa estrutura social predominantemente androcêntrica, superar sua condição histórico-social e conquistar sua autonomia, destacam mulheres que abandonam possíveis projetos pessoais para serem “mulheres de jogadores”? Fundamentado em Aranha, respondo: para reforçar o altruísmo feminino, pois “ao atribuir a ela o altruísmo, exigimos o abandono de si; mas, ao torná-la um ‘ser-para-outro’, temos facilitada sua submissão.” (Aranha, 2006, p. 138)  
Não me parece outra a intenção da Rede Globo, ao vender essa imagem como modelo, de reforçar essa submissão. Como a última fala da reportagem foi a de Juliana, dizendo que faria tudo de novo, a Globo ratifica que o padrão a ser seguido é o da mulher que abandona seus próprios projetos e acompanha a rotina do marido.




E aí, mulher? Bebes ou não bebes?

            O segundo exemplo de reforço ideológico da submissão feminina é a propaganda de cerveja. Se fossemos julgar o consumo feminino de cerveja a partir das peças publicitária, seríamos levados a crer que as mulheres não são muito chegadas a uma “loira gelada”. Pra ilustrar o que estou dizendo, destaco duas propagandas, uma mais recente, da Skol, e outra veiculada já faz algum tempo, da Brahma.
Vamos a mais antiga. A propaganda mostra quatro rapazes (onde?) num estádio de futebol, cada um com uma letra desenhada no próprio corpo, formando, quando posicionados um ao lado do outro, a palavra AMOR. As esposas, namoradas, enfim, companheiras, estão (advinha?) em casa assistindo a partida pela televisão. Encantadas, todas suspiram enamoradas pela apaixonada declaração de amor dos jovens torcedores. Eis que chegam mais dois rapazes para se juntar aos quatro primeiros, também com letras desenhadas (as letras “B” e “H”) e se posicionam de uma forma tal que podemos ler a palavra BRAHMA. A declaração de amor, na verdade, era para a cerveja do coração, afinal, a Brahma é a nº 1!
As mulheres, passionais e temperamentais, como a propaganda sugere, resolvem, então, se vingar: “vamos tomar as cervejas DELES!”, bradam.
Se as mulheres têm o mesmo direito de gostar de futebol e irem aos estádios, por que a propaganda põe “eles” e não “elas” na torcida? Se na vida real, tanto as mulheres quanto os homens têm o hábito de tomar aquela cervejinha “sagrada” para atenuar as agruras de uma vida agitada e estressante, por que, na propaganda, o estoque de cerveja pertence a“eles” e não a “elas”?
Agora, a propaganda mais recente. Durante o carnaval 2012 a Skol fez uma campanha publicitária, intitulada Operação Skol Folia, convocando os consumidores da cerveja para se “alistarem” na promoção que levaria o vencedor e mais cinco “amigos” para invadirem os melhores carnavais do país.
Se o “alistamento militar” no Brasil é obrigatório apenas para os homens, não estaria a propaganda já de saída delimitando o público-alvo da propaganda, a saber, o masculino? Se tanto as mulheres quanto os homens brincam o carnaval, por que na peça publicitária em questão “ele” é que é convocado enquanto “ela” permanece em casa lamentando a “sorte” do marido? Por que será que na propaganda aparecem “rapazes” na maior farra com mulatas estonteantes e não “garotas” numa roda de capoeira com capoeiristas “sarados”?
De forma subliminar, ou melhor, de forma explícita, essas duas propagandas exaltam o “instinto materno” (Aranha, 2006) ao aproximar as mulheres mais da natureza, confinando-as ao mundo doméstico, da esfera privada, portanto. “Já o homem se volta para a rua, para o público, como artífice da civilização.” (p. 138) Em ambas as propagandas as mulheres estão no mundo doméstico, na esfera privada, ou seja, em suas casas, enquanto os homens estão voltados “para a rua, para o público”, no primeiro caso, no estádio de futebol e, no segundo, no carnaval.

Para além do futebol e da cerveja
Por tudo que foi dito, concluo dizendo que apesar dos avanços formais (leis e regulamentos diversos) as representações (concepções de mundo, crenças, opiniões, valores, ideologias) e práticas sociais ainda são ditadas a partir do universo masculino.
Não acredito que a emancipação feminina virá porque as mulheres estão praticando atividades culturalmente atribuídas ao homem. A emancipação virá quando as mulheres puderem livremente escolher qualquer ocupação, não por ser uma atividade deste ou daquele gênero, mas porque a escolha se baseou na identidade da mulher e na sua capacidade de reflexão, deliberação e escolha.
É, mulher, a luta não é fácil! É preciso mais do que jogar futebol, tomar cerveja e assistir a Rede Globo para superarmos a histórica dominação masculina que perdura há milênios e que a grande mídia insiste em reproduzir.
Podem contar com o blog Cabeça Bemfeita como aliado, pois ele tá aí é pra isso mesmo, pra desvelar relações de poder não tematizadas e que são encobertas e perpetuadas por agentes diversos, como é o caso dos meios de comunicação de massa.
Beijos pra vocês, garotas, e firmeza na luta, pois há muito ainda para avançar! E, rapazes, procurem exercitar a co-liderança, independentemente das pessoas com as quais dividimos nossos espaços de vivência serem homens ou mulheres.




Referência Bibliográfica

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2006.




quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher, futebol, cerveja e Rede Globo


Prezados amigos e amigas que dedicaram um pouco do seu tão precioso tempo para ler o blog, meu muito obrigado!!! Vocês não dimensionam a força que estão me dando pra que eu possa seguir em frente!!! Antes do texto "Mulher, futebol, cerveja e Rede Globo", gostaria de falar sobre a frequência com que pretendo publicar. Por mim, "postava" todos os dias (espero em breve chegar a esse ritmo!), mas minhas outras atividades (além de ser professor, pesquisador e agora também escritor, sou marido e pai dedicado) também requerem minha atenção. Nessa fase inicial do blog é minha meta publicar pelo menos um texto por semana.

Vamos lá, então! Fiquem com o texto que preparei (na verdade estou preparando, hoje vai a 1ª parte) pra gente refletir sobre o discurso midiático com relação à mulher. Abraços e até breve!

Mulher, futebol, cerveja e Rede Globo

Antes de ser um dia de comemoração, acredito que o Dia Internacional da Mulher serve muito mais pra gente refletir sobre a condição feminina na nossa sociedade. Apesar dos avanços, ainda vivemos numa sociedade androcêntrica, ou seja, centrada no gênero masculino. Aproveito a data de hoje para postar o primeiro artigo da página Média Mídia, que traz algumas considerações sobre a representação feminina veiculada pelos meios de comunicação de massa.

Na primeira parte do texto, com o apoio da filósofa e educadora Maria Lúcia Aranha, procuro esclarecer alguns pressupostos antropológicos ligados à idéia de mulher e feminilidade. Em seguida, aponto dois casos em que a mídia reforça estereótipos, estigmatizando o universo feminino. Concluo, apontando algumas possibilidades para a superação dessa que uma das  relações mais antigas de submissão: a da mulher pelo homem.   
         
Segundo Aranha (2006), cada sociedade estabelece seus padrões do que é “ser mulher”, definindo sua representação da feminilidade. Ora, certos conceitos quando considerados abstratamente, sem a devida consideração dos determinantes temporais e espaciais, revelam um caráter ideológico, como acontece com os conceitos de mulher e feminilidade, por exemplo. Não há, portanto, uma “mulher em si”, com características universais e abstratas independentes da estrutura social e econômica na qual está inserida. O que há, na verdade, é “uma ‘construção’ social da mulher, que varia de acordo com a expectativa de cada sociedade a respeito dos pápeis que a mulher deve desempenhar.” (Aranha, 2006, p. 137)

Até certo ponto esses modelos são “importantes para o funcionamento da sociedade, para a educação das crianças a partir da imitação e que definem o comportamento desejável de seus membros em cada comunidade” (Idem, 2006, p. 137). No entanto, qual modelo de feminilidade tem prevalecido? Para Aranha, “durante milênios impôs-se um modelo que, embora comportando algumas variações, conserva intacta a subordinação ao homem, mantendo assimétrica sua relação com ele.” (Idem, 2006, p. 137)

Alguns estereótipos se cristalizam, fixando para a mulher características consideradas “naturais”.  Intuição, delicadeza, sensibilidade, altruísmo, amor incondicional, “instinto materno”, seriam atributos tipicamente femininos.   Os meios de comunicação de massa reproduzem esses estigmas através de diversos agentes: telenovelas, filmes, propaganda, jornais e revistas de grande circulação, internet.

Confirmarei isso na 2ª parte do texto (espero que seja o mais breve possível), narrando dois exemplos (um deles, inclusive, me instigou a escrever o presente artigo): uma série de reportagens veiculadas essa semana pelo Bom Dia Brasil, telejornal matutino da Rede Globo, em “homenagem” à mulher, e a representação do papel social da mulher que a propaganda da indústria de cerveja sugere. Aguardem!!!