sábado, 6 de março de 2021

Tem início hoje o especial e experimental XIII Janela Internacional de Cinema do Recife


Ao invés de aglomerar as salas do Cinema São Luiz e do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, na sua 13ª edição o importante festival pernambucano chegará às/aos cinéfilas/os via plataforma digital  (Imagem: Portal Cultura PE)

Como tem acontecido com outros festivais no Brasil e no exterior, o XIII Janela Internacional de Cinema do Recife acontecerá on-line, entre os dias 6 e 10 de março.

O mês habitual do Janela é em novembro, mas, depois de ter sua edição de 2020 cancelada em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o festival volta em edição “especial e experimental”, nas palavras de Kléber Mendonça Filho, que assina a direção artística ao lado de Emile Lesclaux. 

Se não teremos aglomerações no Cinema São Luiz e no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, pelo menos teremos cinco dias de acesso a imagens, pensamentos, ações e atitudes que revelam uma multiplicidade de olhares sobre o universo humano.

Os destaques são os programas "Aulas do Janela", "Eu Me Lembro", "Forum 50: Episódios de Luta", "Arquivos Brasileiros" e o projeto "Coquevídeo: Resiste". As "Aulas do Janela" são encontros onde artistas, realizadoras/es, produtoras/es conversam sobre cinema, cultura, criação e crítica nesse tempos difíceis. Já no "Eu Me Lembro", tema-síntese desta edição, teremos acesso a filmes criados especialmente para o festival a partir desta temática central. Kaique Brito, Anna Muylaert, Nele Wohlatz, Lia Letícia, Sergio Silva, Bruno Ribeiro, Joao Pedro Rodrigues e Joao Rui Guerra da Matta foram as/os realizadoras/es que participaram. 

O festival acerta ao incluir na sua programação títulos raros que propõem a reflexão e a ação políticas. Vivemos um momento bem delicado da ainda jovem democracia brasileira, onde o próprio Governo Federal defende o fim das instituições republicanas e a substituição do diálogo crítico e reflexivo, dos princípios lógicos ciência pelo negacionismo, pelas fake news,  que nada mais são do que formas de apagar a memória de um povo, pela violência e pelo aniquilamento do diferente e do divergente. 

O "Forum 50: Episódios de Luta" traz uma seleção de filmes, realizados entre 1968 e 1971, que "dão expressão a projetos antirracistas de futuro, tão solidários quanto combativos, numa indistinção nada infrequente entre cinema e rebelião", diz Luís Fernando Moura, no texto de apresentação da mostra. O programa é um recorte da primeira edição da mostra Forum/Festival de Berlim, que há cinquenta anos abriu uma plataforma internacional para o filme político, bastante influenciado pela disseminação de movimentos civis, da contracultura, do discurso a ação revolucionários e dos cinemas diretos. A curadoria do "Forum 50: Episódios de Luta" foi uma colaboração entre o Janela e o Forum.

Os "Arquivos Brasileiros" e "Coquevídeo: Respire" completam a programação. O primeiro apresenta três títulos que podem ser encontrados nos arquivos, mas que circulam pouco e que retratam a riqueza do patrimônio audiovisual brasileiro, com destaque para "Pérola Negra", de Reinaldo Cozer, curta de 11 minutos, realizado em 1979, que retrata a intimidade e a convivência de Luiz Melodia com a família e amigos no morro do Estácio,  já "Coquevídeo: Respire" mostra o desenvolvimento do curso Coquevídeo – Formação e Experimentação Audiovisualformação audiovisual para a juventude do Coque. O projeto, aprovado pelo 11º Edital do Funcultura Audiovisual, tem o objetivo de dar visibilidade ao olhar que vem de dentro da comunidade, destacando a diversidade da produção de arte e conhecimento, afastando as narrativas hegemônicas que apenas associa o local à pobreza e à violência urbana. O vídeo será lançado no dia 09 de março, às 19h. 

Fica aí, então, para nossas/os leitoras/es, essa dica do Cabeça que, além de garantir a fruição estética nos próximos cinco dias, faz a gente pensar e refletir sobre nossas lembranças, abordando a importância das memórias individuais e coletivas, dos arquivos e da preservação das histórias pessoais e sociais, vividas e/ou filmadas. 

Toda programação é gratuita, bastando apenas se inscrever no site do festival, que pode ser acessado com um clique aqui

E viva à resistência! 

E viva à Cinemateca Brasileira, maior arquivo audiovisual brasileiro e um dos maiores da América Latina, que permanece fechado e sem profissionais especializados por uma política de destruição da memória, patrocinada pelo atual Governo!

E viva ao Janela Internacional de Cinema do Recife!

Zebé Neto

Professor de filosofia, pesquisador e escritor