Prezada leitora, prezado leitor, no dia de ontem tivemos mais uma Assembleia da Campanha Salarial 2012 dos professores da rede privada de Pernambuco. Mais uma vez, como acontece todos os anos, a classe patronal rejeitou um acordo que visava atenuar ("atenuar", porque é difícil se falar em "ganho real" quando a referência são sempre patamares insignificantes) a situação difícil pela qual passa os/as docentes da escola privada pernambucana.
Vivemos um momento agudo, onde a recusa em se chegar a níveis menos humilhantes faz com que o movimento grevista ganhe força. Visando contribuir com o debate sobre as condições de trabalho dos docentes da rede privada, compartilho com vocês algumas considerações que fiz sobre a relação direta entre melhores condições salariais e a construção de uma escola de qualidade.
Como bem lembra
Maria Lúcia de Arruda Aranha, “o professor é um profissional e, como tal, além
da boa formação, deve ter garantidas condições mínimas para um trabalho
decente: materiais adequados, reuniões pedagógicas, atualização permanente,
plano de carreira, além de salários mais dignos.” (Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2009, p. 44)
Apesar de já ser
um lugar comum dizer que o professor precisa ser valorizado (tema inclusive dos
documentos oficiais do MEC), na prática o que obervamos é a desvalorização do
trabalho docente, não só pelos salários baixíssimos, como também por falta de
uma política séria de formação continuada, tanto na rede pública quanto
privada.
Infelizmente,
mais uma vez, assistimos o descaso com o professor da rede privada
pernambucana, com a total falta de sensibilidade da classe patronal em atenuar
a situação degradante das condições de trabalho dos docentes, concedendo-lhes
alguns (míseros) ganhos. Se formos radicalizar, nem ganho seria, pois estamos
tão defasados que o máximo que conseguíssemos atingir não cobriria as perdas
históricas.
Obviamente que as
melhorias não virão por um “ato de bondade” dos patrões, mas “só serão possíveis
se os professores tomarem consciência política da sua situação e estiverem
dispostos a se mobilizar como corpo coletivo, sempre que necessário, como grupo
ativo dentro de sua própria escola e/ou engajados em associações
representativas de classe que defendem seus interesses.” (idem, ibidem, p. 44)
Contrariamente
ao movimento mundial de valorização do magistério, que passa pelo pagamento de
salários mais dignos, a classe patronal pernambucana insiste em manter sua
visão estreita de que o lucro das escolas vem da exploração do trabalho dos
professores, configurada na mais-valia - conceito marxiano que, simplificadamente,
seria àquela parte do nosso trabalho que, apesar de ser fruto de nossa atividade, é apoderada por
outrem. Exemplo: digamos que, de acordo com as atividades que você executa
ordinariamente, sua hora-aula deveria ser R$ 40,00 e você recebe apenas R$ 15,00
(o que para muitos professores que ganham os irrisório pisos dos Nível I e II seria o “sonho
de consumo”). A diferença, ou seja, os R$ 25,00 que você não vê a cor, é a
mais-valia. Também é mais-valia as reuniões pedagógicas que frequentamos e não
recebemos, “ajudar” na organização da escola para comemorações ou eventos, aulas-passeio,
enfim, tudo o que fazemos para além das horas-aula para as quais fomos
contratados e não recebemos.
Aqui
fica uma indagação para àqueles que pensam as estratégias de ação do sindicato
patronal: os lucros das escolas não aumentariam sobremaneira se os professores tivessem
uma remuneração mais adequada, uma vez que favoreceria a construção de um
profissional mais competente, apto, portanto, a desenvolver uma proposta pedagógica
verdadeiramente significativa e contextualizada?
Está na hora dos
gestores da rede privada começarem a modificar suas práticas e investir mais
naquele que é (ou deveria ser) o protagonista das necessárias mudanças que o
sistema escolar precisa enfrentar. Na sociedade do século XXI, que exige um
novo profissional, que seja não só transmissor, mas, principalmente, selecionador,
crítico e produtor de informação e conhecimento, as escolas que permanecerão
competitivas serão aquelas que investirem na qualificação docente para que o
professor adquira as competências profissionais requeridas pela era da
informação, da comunicação e do conhecimento.
Quem é professor
sabe o quanto é difícil, com a atual realidade salarial, se manter atualizado e
investir na sua formação continuada, tanto pela falta de tempo, pois o professor
acumula dois, três, em alguns casos, quatro empregos, quanto pela falta de
recursos financeiros para investir na compra de livros, na assinatura de
revistas especializadas (em educação e na sua área do conhecimento) ou de uma
internet decente, nem mesmo para sua formação cultural, pois não “sobra” dinheiro
para ir ao cinema, a um show ou ao teatro. Na verdade, o salário do professor
mal dá para suprir suas necessidades materiais (moradia, alimentação,
transporte, saúde), quanto mais suas necessidades simbólicas.
Pelo que vemos
na atual campanha salarial, ainda está longe das escolas particulares
pernambucanas se tornarem mais eficientes e abraçarem as novas perspectivas
pedagógicas, pois continuam presas ao antigo paradigma (econômico e cultural), cuja
baixa remuneração salarial é um dos seus pilares.
Senhores e
senhoras donos e donas de escola: vamos ser mais inteligentes e investir mais
no professor, pois já está provado que o desenvolvimento de qualquer sociedade
(o que inclui suas escolas) só se dá com uma educação com qualidade social, que,
por vez, só pode ser alcançada com o pagamento de salários mais justos àquele
que é responsável direto pelo êxito das propostas pedagógicas: o professor. Com essa
política de contenção salarial vocês estão perdendo o bonde da história!
Senhores e
senhoras professores e professoras: vamos nos conscientizar politicamente da
nossa situação e nos mobilizar como um corpo coletivo, atuando dentro de nossas
escolas e ajudando nossa associação representativa de classe, ou seja, o
sindicato, a se rever constantemente e se fortalecer cada vez mais, o quê, em
última instância, seria bom, não só para os professores, como para as próprias
escolas que, com uma equipe qualificada, devido aos avanços nas conquistas
trabalhistas, poderiam oferecer uma (verdadeira) educação com qualidade social,
e não o engodo que é oferecido a sociedade pernambucana pela maioria dos
estabelecimentos de ensino da rede privada.
Olá, seguidores do Cabeça
Bemfeita e leitores fortuitos, tudo bem com vocês? Acredito que essa seja a
vez que mais demorei para postar um texto. Antes de irmos para a segunda parte do texto sobre a alienação dos professores, gostaria de compartilhar com vocês as razões para
um hiato tão grande entre um texto e outro.
Como
“a arte da leitura é rara nesta época de trabalho e de precipitação, na qual temos
de acabar tudo rapidamente”, como diz Jorge Larossa, no livro Nietzsche e
a Educação, ao falar sobre como o filósofo via “os leitores modernos” (sem
tempo para esbanjar em atividades que demorem, cujos fins não se veem com
clareza, e das quais não podem colher imediatamente os resultados”), quem
preferir pode passar direto para o texto principal, disponível mais abaixo. Sei que o ritmo de vida é bastante acelerado nos dias atuais, não sobrando muito tempo para atividades consideradas, para muitos, "supérfluas", como a leitura. (Olha aí, Rozário, o livro que você me deu já sendo assimilado criticamente!)
Se
você é um “leitor moderno”, acredite-me: a falta de
leitura é justamente a razão para a falta de tempo que a maioria das pessoas
experimenta. O que quero dizer é o seguinte: como não lemos, pois não temos
tempo, não compreendemos muito bem nossa realidade, inviabilizando qualquer
projeto de transformação.
Enfim,
gostaria de compartilhar os projetos que estou envolvido nesse meu novo momento,
de construção da identidade de professor reflexivo, pois eles são fruto da minha guinada paradigmática. Espero com isso estimular
outros sujeitos a descobrirem o poder libertador da autorregulação dos processos
de aprendizagem e formação.
1) Depois de sete anos sendo considerado pelas
instituições com as quais colaborei como um simples empregado, executor de
políticas pedagógicas nem sempre justificadas em comunidades dialógicas, começo
a desenvolver um trabalho (trabalho no sentido filosófico, de transformação da
realidade através de uma atividade consciente, intencional e deliberada, defendido
por mim no texto que venho escrevendo sobre o trabalho alienado do professor)
na tradicional casa de educação pernambucana, Instituto Helena Lubienska.
Depois de três, quatro anos, de reflexão filosófica sobre a educação em geral e
sobre a instituição escolar e o ofício do professor, em particular, resolvi
romper com o medo e a insegurança que acompanham toda tentativa de mudança,
sair do isolamento ao qual estamos submetidos e convidar meus colegas
educadores e educadoras do Lubienska para pensarmos "sob uma outra perspectiva, para
provocar mudanças no tradicional modelo curricular predominante”(...). Estou só no início do
trabalhado, mas já sinto o acolhimento das minhas ideias. Lá tenho encontrado
pessoas que, assim como eu, sabem que as transformações na organização escolar,
tal qual herdamos do projeto moderno de sociedade, apesar de complexas, são
possíveis. Agradeço a atenção que tenho recebido de várias pessoas, em especial
do professor Saulo Nogueira, de Ciências, que já tem um certo tempo de
caminhada, mas que tem o espítito aberto para o novo, e a Diretora Pedagógica, Rozário Azevedo, que com sua postura reflexiva e dialógica me deu a esperança de que novas lideranças educacionais,
formadas em princípios reflexivos, éticos, políticos e estéticos em sintonia com
a sociedade atual, estão surgindo na Rede Privada. Os senhores e senhoras sabem
que lecionar não é tarefa das mais simples, demandando um tempo considerável
(bem, pelo menos para profissionais compromissados em oferecer uma educação com
qualidade social!): preparar aula, pensar e criar propostas de atividades
significativas, avaliação diagnóstica, processual e formativa, acompanhamento do
percurso de cada estudante, entre outras atividades. Além disso, como não temos no mercado material
didático de filosofia que contemple a perspectiva de ensino e aprendizagem que
venho perseguindo, tive a ideia de criar um “livro virtual” de filosofia. Na
verdade é um blog, ou melhor, dois, já que assumi os 6º e 7º anos do Lubienska.
Neles procuro, através da ferramenta em que os pertencentes a geração Z são alfabetizados
desde a mais tenra idade, a internet, favorecer o desenvolvimento de
competências e habilidades crítico-reflexivas;
2) Mudanças de perspectivas e de práticas
docentes exigem intensa pesquisa. Estou levando a sério o que dizem os
especialistas em educação: que nós, professores devemos ser, pesquisadores.
Como vocês sabem a educação é um processo multiforme e plural, sendo tecido por
diversos fios que compõem sua trama. São diversos conceitos, ideias, saberes,
conhecimentos, procedimentos e atitudes oriundos das mais diversas áreas
(antropologia, sociologia, história, filosofia, psicologia, tecnologia,
comunicação, didática geral, didáticas específicas, ...) que devem ser
pesquisados e esclarecidos para que o projeto que estou construindo ganhe rigor
conceitual e metodológico. Quem pesquisa sabe o quanto é trabalhoso e quanto
demanda tempo realizar tal tarefa: pesquisa bibliográfica, seleção de textos,
leitura crítica, fichamentos, resumos, escrita dos textos autorais,...;
3) Pretendo fazer mestrado no Centro de Educação
da UFPE e comecei a fazer uma leitura crítica sobre a bibliografia indicada para
a seleção do mestrado em educação do ano passado. Vou colocar à prova as
competências leitoras que venho aprimorando nos últimos anos, pois só terei de
dois a três meses para fazer as leituras e os fichamentos de cinco ou seis
livros. Tava trabalhando com a hipótese de que a inscrição seria lá pra
setembro ou outubro, possibilitando um tempo maior para estudar os textos. No
entanto, fiquei sabendo que será em julho. Como vocês podem imaginar, outra
parte considerável do meu tempo está reservada para minha preparação para o
mestrado;
4) Outro projeto, que ainda está na fase inicial
(pesquisa bibliográfica), é um material pedagógico de apoio para professores,
uma espécie de cartilha, contendo reflexões sobre a relação entre educação e tecnologia e suas
implicações, além de atividades, dicas e sequências didáticas sobre o uso das
tecnologias da informação e comunicação na sala de aula. Tenho reservado uma
parte do meu tempo para esse projeto;
5) Tenho colaborado com o pessoal da Livrinho de
Papel Finíssimo Editora. Estamos desenvolvendo uma cartilha pedagógica sobre
Segurança Meio Ambiente e Saúde (SMS) para a TRANSPETRO. Começamos também a discutir a
construção de uma coleção didática para o Ensino Médio, em princípio envolvendo
Filosofia, Sociologia e Artes, fundamentada em diretrizes curriculares
consideradas as mais adequadas para formação cidadã no mundo atual;
6) E por último, que na verdade é a causa primeira
de todos os meus projetos, cuido de duas figurinhas muito especiais: Caio e
Ravi, meus filhos. Quem cuida de crianças sabe o quanto essa atividade requer
nossa atenção: trocar fralda, dar banho, alimentar, brincar, ninar ... Os dois são os responsáveis
diretos por tudo o que estou vivendo hoje. É por e para eles que busco
construir uma proposta pedagógica verdadeiramente significativa e contextualizad, que
ultrapasse o mero discurso já muito bem decorado de educação inclusiva, e que
de fato inclua, não só os visivelmente limitados por questões físicas (psíquica
e/ou motora), mas também os chamados “normais”, que de certa forma são também excluídos
por não adquirirem, durante sua formação básica, todos (ou pelo menos a maior
parte) dos saberes, conhecimentos e competências necessários para o exercício
efetivo da cidadania.
Espero
que, com as razões apresentadas, vocês compreendam a demora em escrever a segunda parte
do texto sobre o trabalho (ou melhor, emprego) alienado que nós, docentes, executamos. Acredito
já ter escrito melhor, mas a urgência em compartilhar minhas ideias nesses dias
de redefinição de identidades sociais (principalmente para nós, professores,
que estamos em pleno processo de campanha reivindicatória) me fazem abrir mão
da forma em benefício das implicações éticas e políticas da minha postura.
Uma última coisa: sinto falta dos cometários! Uma ou outra pessoa já chegou pra dizer que o blog "é legal", "é massa" (Ana Maria, Veloso, valeu os comentários escritos) mas gostaria mesmo era ouvir os posicionamentos de vocês sobre as coisas que falo aqui. Escrevam no espaço destinado aos cometários seus pensamentos, a opinião de vocês sobre o que escrevo, se concordam, se não, o que o blog tem de "legal" e de "massa". Ou, ao contrário, quais são suas limitações, seus "pontos fracos", por assim dizer. Fiquem também à vontade para falar sobre suas experiências, sentimentos, frustações, alegrias, ... Enfim, expresssem-se! A leitura crítica de vocês é muito importante para o aprimoramento desse nosso espaço de reflexão e crítica. Finalmente, fiquem com a segunda parte do texto:
Trabalho
ou emprego? A atividade alienada (e alienante) do professor
Prezada
leitora, prezado leitor, finalizo com o presente texto, a discussão que levantei
na última postagem: somos nós, docentes, trabalhadores ou empregados?
Com
base na minha própria experiência e na observação direta das atividades
realizadas pelos meus colegas professores, infelizmente, sou levado a concluir
que a maioria dos que se dedicam a docência deveriam muito mais serem chamados
de “empregados” do que de “trabalhadores”.
Como vimos na primeira parte do texto, “o trabalho, em sentido
amplo de trabalho material e intelectual, é a ação transformadora da realidade
dirigida por um projeto, ou seja, por uma antecipação da ação pelo pensamento,
sendo, por isso, consciente, deliberada e intencional.”
Vimos também que “através do trabalho o ser humano supera os
determinismos naturais, conseguindo sua liberdade”,sendo a liberdade fruto da
ação transformadora sobre o mundo. No entanto, o trabalho só é libertador onde
não haja a exploração do trabalho, ou seja, onde a atividade realizada é fruto
das necessidades intrínsecas ao próprio sujeito e não imposta por outros.
Quando há, portanto, relação de exploração, estamos diante do trabalho
alienado.
Com o desenvolvimento do sistema capitalista o processo de
alienação intensifica-se através da separação entre os que criam, pensam,
estabelecem as atividades e os que simplesmente executam o trabalho (dicotomia
concepção-execução do trabalho). O chamado taylorismo“leva adiante a concepção
do processo de produção parcelado, estabelecendo os princípios do método
científico de racionalização da produção”.
Não demorou e os princípios do método científico de
racionalização da produção foram incorporados por outras instituições, como a
escola, por exemplo. Até hoje, infelizmente, a forma de organização do sistema
educativo ainda reflete o trabalho parcelado, fragmentado, “pensado” por uma
equipe de tecnocratas, herdado dos modelos de produção e gestão econômica.
Como professor, frequento o universo escolar há oito anos e
ainda não encontrei uma instituição escolar em que não houvesse a dicotomia concepção-execução
do trabalho. Levanto agora cinco indagações, a título de provocação, para
confirmar essa minha impressão:
1) Quem de nós participa de reuniões pedagógicas com os gestores
(diretores e coordenadores) dos nossos estabelecimentos para discutir sobre os
pressupostos filosóficos (antropologia, epistemologia e axiologia) que
fundamentam as identidades coletiva (escola) e de cada profissional em
particular?
2) Quem de nós ajudou a estabelecer que o currículo das nossas
escolas deva se organizar disciplinarmente ou através de eixos-temáticos?
3) Quem de nós compartilha com os demais professores e com o
corpo gestor princípios, diretrizes e posturas didáticas consensuais?
4) Quem de nós domina as novas tecnologias da informação e
comunicação, utilizando-as para selecionar informações e produzir conhecimento?
5) Quem de nós participa da necessária reflexão permanente sobre
o Projeto Político Pedagógico dos espaços onde lecionamos?
Não é fácil tentar colocar em discussão representações e
práticas já consolidadas (sei bem o que é isso, pois já perdi dois empregos por
tentar colocar em discussão os pressupostos filosóficos e pedagógicos das
instituições), mas só acredito numa proposta de educação de qualidade se todos
os sujeitos que compõem a comunidade escolar, do porteiro ao diretor,
participam da construção dos princípios teóricos e das ações efetivas.
O que acontece na maioria das vezes é que nós, professores, tal
qual um operário no sistema fabril, ficamos responsáveis por executar uma
atividade parcelada (“dar” aula, ou seja,“transmitir” conteúdos), fragmentada
(nossa área do conhecimento não dialoga com as demais do currículo) e
descontextualizada (não referimos os conteúdos curriculares à realidade
sócio-histórica dos educandos). Muitos teóricos chegam inclusive a defender a
ideia da proletarização da atividade docente.
E hoje, como a chamada pós-modernidade interfere no trabalho
docente? É o que veremos a partir de agora.
O trabalho na Pós-modernidade
Ainda que o conceito de Pós-modernidade não seja consensual
entre os pesquisadores, é inegável que a sociedade atual apresenta algumas
características que a fazem totalmente diferente do projeto social, político e
econômico da modernidade.
Entre
as mais evidentes, pode-se apontar a globalização e a revolução tecnológica, notadamente nos meios tecnológicos de informação e comunicação.
Presenciamos
também o “declínio da esfera pública e da política, a crise ecológica, o
impasse histórico do socialismo, os tribalismos, a expansão dos
fundamentalismos, as novas formas de identidade social e as conseqüências da
informatização sobre a produção e sobre o cotidiano (...)”, como alerta Jussara
Malafaia Moraes.
Ainda
segundo Jussara, “para a maioria dos autores, a Pós-Modernidade é traçada como
a época das incertezas, das fragmentações, da troca de valores, do vazio, do
niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da
substituição da ética pela estética, do narcisismo, da apatia, do consumo de
sensações e do fim dos grandes discursos.”
Dentro
desse contexto como fica a organização do trabalho em geral, e do trabalho
docente em particular?
Novas
relações de trabalho
No
artigo“Admirável trabalho novo?”, no qual discute os impactos econômicos e
sociais das transformações no mundo do trabalho, a socióloga Priscila
Gorzoni diz que boa parte das modificações nas formas e estruturas de trabalho,
se deve “às mudanças dos paradigmas do trabalho, às inovações tecnológicas e à
globalização, que rompeu com as barreiras da distância.”
Segundo
Gorzoni,“assim como a sociedade industrial do início do século XX se viu
centrada nas relações trabalhador e indústria, vivemos hoje uma nova dinâmica
social moldada não só pela era digital, (...) mas pela rapidez e instabilidade
derivada dela. Entretanto, essas mesmas armas que em certo aspecto facilitam,
em outros tantos dificultam, exigindo ainda mais dos profissionais, que agora
não se sustentam ao dominar apenas o conhecimento de sua função. Além disso,
existe um outro fator de angústia: ter de lidar com a falta de vínculos, o
desemprego e a efemeridade dos contratos trabalhistas.”
Além
de afetar o setor profissional, as modificações nas relações de trabalho mexem
com a dinâmica social. Para o psicólogo, Alexandre Rivero, citado por Gorzoni,
“o mundo vive transformações radicais, a produção do conhecimento e as
conquistas tecnológicas assumem uma velocidade muito intensa. Estas
modificações influenciam o mercado de trabalho exigindo um profissional que se
atualize constantemente e que se aproprie da tecnologia a serviço de seu foco
profissional".
No
entanto, os últimos anos não têm sido os melhores para os trabalhadores. Um dos
fatores, segundo o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett,
também citado por Gorzoni, “é o aumento do volume de atividades sem a elevação
compatível de salário e benefícios.” Outra questão identificada por Sennet como
consequência das mudanças na organização do trabalho é a perda da identidade.
Sennett destaca ainda a falta de vínculo com o local de trabalho, a perda dos
laços de solidariedade dentro da empresa, além da degradação e humilhação dos
profissionais nos processos seletivos.
Para
Sennet, o capitalismo vive uma fase cuja natureza é a flexibilidade, onde as
formas rígidas da burocracia e “os males da rotina cega” são atacados. No
“capitalismo flexível” exigem-se competências compatíveis com o novo momento:
agilidade, abertura às mudanças de curto prazo, assumir riscos continuamente,
depender cada vez menos de leis e procedimentos formais.
Ao
contrário do trabalhador do modelo fordista que, “embora imerso na burocracia,
rotina e alienação, possuía uma trajetória constante e expectativas de longo
prazo”, o trabalhador atual já não tem essa possibilidade, “devido a uma
dinâmica de incertezas, mudanças de emprego e de cidade e o sucessivo
rompimento de laços. As relações centrais, outrora vistas e sentidas na
coletividade, passam a ser individualizadas, extrapolam o mundo do trabalho e
se estendem a toda forma de sociabilidade. Em um mundo fragmentado, de relações
efêmeras, cortadas, instáveis, sem continuidade, tampouco margem de segurança,
tudo, inclusive o trabalho, perde a referência e a compreensão.”
Gorzoni
finaliza a apresentação das ideias de Sennett, dizendo que as relações
impessoais de trabalho afetarão diretamente as relações sociais e vice-versa.
Estabelecendo relações superficiais, descartáveis, cujos laços de lealdade e
compromissos são tão frouxos quanto a efemeridade do curto prazo de trabalho.
"Em um regime que não oferece aos seres humanos motivos para ligarem uns
para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo",
ressalta o autor.
A
atividade alienada (e alienante) do professor
Seja
no contexto da sociedade industrial seja no da sociedade pós-industrial,
caracterizada pela ampliação dos serviços (setor terciário), submetendo os
outros setores (agricultura e indústria) ao desenvolvimento de técnicas de
informação e comunicação, e pelo predomínio de um cotidiano marcado pelo
consumo, prevalece o trabalho alienado.
A
atividade que a maioria de nós executa representa o que há de mais aviltante
nas relações de trabalho. Somos vítimas de uma atividade parcelada: ficamos
responsáveis por transmitir certos conteúdos considerados importantes pela
tradição científica, seguindo cegamente uma ordem preestabelecida pelos
sumários dos livros, que muitas vezes nem somos nós que escolhemos.
A
maioria de nós permanece isolada nos seus locais de trabalho. Não
compartilhamos com nossos colegas experiências pedagógicas. Não sabemos o que
nossos colegas pensam sobre formação moral, política e estética.
Presos
a três, quatro empregos, não temos tempo para acompanhar as pesquisas que estão
sendo feitas nas nossas áreas do conhecimento, nem nos apoderar do que os
educadores, filósofos e sociólogos estão dizendo sobre a educação do novo
milênio.
Sem
medo de errar (ah, como gostaria que estivesse errado!), ouso dizer que a
grande maioria dos que estão lecionando (em todos os níveis e modalidades da
educação formal) nesse momento nunca fizeram uma leitura crítica sobre os
documentos oficiais que organizam seu ofício (LDB, PCN’s, Diretrizes
Curriculares dos diferentes segmentos, resoluções e pareceres diversos). Também
ouso dizer que a maioria dos que lecionam não construíram durante sua formação
inicial e continuada os quatro grandes pilares da educação estabelecidos pela
UNESCO e defendidos como competências fundamentais para o exercício da cidadania
na era da informação, da comunicação e do conhecimento, quais sejam, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Além
disso, acredito que a maioria dos que são responsáveis por fazer a mediação
entre os saberes, conhecimentos, competências, procedimentos e atitudes
necessários para o exercício da cidadania e as novas gerações, não conseguiram,
eles próprios, assimilar, criticamente tais conhecimentos.
Também
acredito que a grande maioria dos professores, não dominam conhecimentos
linguísticos, históricos, sociológicos, psicológicos, pedagógicos, científicos,
artísticos e, o que é pior, não dominam, de forma radical, rigorosa e de
conjunto, sua própria área do conhecimento.
Sem
falar que a maioria de nós (por não termos tido uma formação filosófica
adequada durante o ensino médio, nem nos nossos cursos de formação
profissional), não desenvolveu competências crítico-reflexivas, capazes, não só
de superar a dicotomia teoria e prática, como de nos instrumentalizar para
enfrentarmos o mundo contemporâneo, marcado, como vimos acima, pela
globalização, pela revolução tecnológica, pelas novas formas de identidade
social, pelas incertezas e pela efemeridade.
Por
essas e outras, prezada leitora, prezado leitor, é com grande pesar que concluo
as considerações que me propus a fazer nesse artigo, afirmando que a maioria de
nós, professores, apesar de termos o “intelecto” como matéria-prima de nossa
atividade, temos nosso desenvolvimento pessoal e profissional embotado pela
alienação à qual somos submetidos pela divisão social do trabalho.
Alienar,
no sentido etimológico, significar “transferir para outrem aquilo que é seu”.
Nós, professores abrimos mão do direito legal e democrático de participarmos da
construção e revisão do Projeto Político Pedagógico das escolas, transferindo
essa responsabilidade para os setores de planejamento.
E,
o que é pior, nossa atividade, além de alienada, é alienante, pois, ao não nos
posicionarmos diante da realidade social, econômica, cultural e política, por
não termos sido preparados para isso, assumimos, inconscientemente os valores
vigentes, dificultando, assim, a assimilação crítica das ferramentas culturais
necessárias para o exercício efetivo da cidadania pelos nossos educandos.
Segundo
o Wikipédia, “empregado é a pessoa contratada para prestar serviços para um
empregador, numa carga horária definida, mediante salário. O serviço
necessariamente tem de ser subordinado, qual seja, o empregado não tem
autonomia para escolher a maneira como realizará o trabalho, estando sujeito às
determinações do empregador.”
Infelizmente, essa parece ser a realidade da maioria dos professores da Rede Privada: obrigados a prestar um serviço previamente estabelecido (transmitir conteúdos curriculares) para um empregador (dono de escola), não têm autonomia para sugerir a melhor maneira para realizar o trabalho, tanto por questões institucionais (a maioria das escolas tem dificuldades para se transformarem em espaços dialógicos), quanto pessoais (a maioria dos professores não consegue efetivar a filosofia da práxis, ou seja, a união indissolúvel entre teoria e prática).
Por último, destaco a frágil consciência de classe determinada pela atividade alinada do professor, pois, como vimos mais acima , as relações impessoais de trabalho afetam diretamente as relações sociais, "estabelecendo relações superficiais, descartáveis, cujos laços de lealdade e compromissos são tão frouxos quanto a efemeridade do curto prazo de trabalho", impedindo assim, os sentimentos de coletividade e solidariedade.
E aí, professor, e aí, professora: essa é a sua realidade
ou, ao contrário, você exerce uma atividade criativa, transformadora, enfim,
libertadora, onde você determina o quê será produzido, além de determinar como
e quando acontecerá sua produção?
Por enquanto deixo
vocês revendo suas identidades. Aproveito também para dar mais uma já tradicional dica cultural: Pink Floyd, com Another Brick in the Wall. Mais um texto para dar elementos para sua reflexão. Volto ainda essa semana (espero!) para começar a falar
sobre o perfil do professor reflexivo ou intelectual transformador da
realidade, condição, na minha visão, para superarmos os impasses e incertezas do mundo atual.
Até lá!
Antes de compartilhar com vocês mais um texto sobre a série de reflexões sobre a condição de professor, gostaria de fazer alguns esclarecimentos:
1) Ontem pela manhã redigi e postei um texto às pressas, pois pensava em fazer menção a ele na Assembleia dos Professores da rede privada realizada ontem, dia 03 de maio. É que venho tentando me aproximar da identidade do professor reflexivo ou intelectual transformador da realidade, como defendem importantes educadores da atualidade, como a portuguesa Isabel Alarcão, o suiço Philippe Perrenoud e o norte-americano Henry Giroux, e seria uma ótima oportunidade poder colocar para meus colegas minhas ideias. Não o fiz, pois senti que ainda não era o momento. Faço aqui uma confissão: como muitos de nós, não fui preparado, tanto na educação básica, quanto no nível superior, para utilizar a palavra em público e fico super nervoso só em pensar em ir lá na frente e dizer o que penso. Um dos projetos que me coloquei esse ano foi o investimento na inteligência comunicacional (o que inclui tanto a escrita, que já estou exercitando aqui no Cabeça, quanto a oralidade), imprescindível para quem vem assumindo a identidade de filósofo, escritor e educador, como é o meu caso. Até a próxima assembleia vou ver se consigo desenvolver alguns procedimentos para o uso da palavra em público (aliás, uma das competências que pretendo ajudar meus alunos a desenvolver) e espero dizer alguma coisa, pois meu compromisso político me obriga a me posicionar diante das questões do meu tempo. Por enquanto, vou mandando minha palavra através do Cabeça Bemfeita.
2) Justamente por ter sido escrito às pressas, o texto apresentava precisava ser revisto e aprimorado. É essa versão revista que hoje publico.
3) Novamente com relação a frequência das publicações do Cabeça Bemfeita: como minha vida está bem movimentada, não vou mais estabelecer um dia fixo para postagens de textos. Combinemos o seguinte: toda semana, em média, publicarei um texto novo. Qualquer mudança, avisarei.
Um dado curioso e que tem tudo a ver com o texto que compartilho hoje com vocês: agora pela manhã, enquanto mexia no texto, a TV estava ligada na Rede Globo e o apresentador do Bom Dia Brasil, Chico Pinheiro, no final do programa, ao se despedir disse: "Hoje é sexta-feira, é vida que segue!”. O que podemos ler nessa máxima de Pinheiro? Que o fardo da semana, período no qual trabalhamos (e no caso dos estudantes, período de aula) está terminando, e a "vida" finalmente surge com o final-de-semana, tempo em que estamos liberados das atividades rotineiras, repetitivas, cansativas e estressantes.
Espero que as reflexões que farei possam de alguma forma ajudá-los a responder a seguinte questão: a atividade que vocês realizam é melhor caracterizada como um trabalho ou como um emprego?
Trabalho ou emprego? A Atividade alienada (e alienante) do professor
Aproveitando
as comemorações (para a maioria, lamentações) do dia do trabalho, ocorrido na
última quarta, dia 1º de maio, resolvi escrever sobre uma questão que há algum tempo vem me
intrigando: nós, professores, somos “trabalhadores”ou “empregados”? Temos um
"trabalho" ou um "emprego?"
Partindo
da concepção filosófica do trabalho e de sua realização histórica, notadamente
a partir da emergência da sociedade industrial, defenderei a ideia de que
a maioria de nós, que nos dedicamos à atividade de ensinar, merecemos muito
mais sermos chamados de “empregados” do que de “trabalhadores”.
Nesse primeiro texto discorrerei sobre a visão filosófica do trabalho, destacando-o como condição de liberdade e o conceito de práxis como atividade especificamente humana. Também abordaderei a visão histórica do trabalho, ou seja, a forma concreta como temos organizado as relações de trabalho ao longo do tempo. Finalizo essa primeira parte do artigo, trazendo algumas reflexões sobre o processo de alienação na sociedade industrializada.
Na semana que vem, eu volto trazendo uma discussão sobre o processo de alienação na chamada sociedade pós-moderna e como percebo a inserção do trabalhador em educação nesse processo.
Visão
filosófica do trabalho
O
trabalho é apontado, ao lado da linguagem verbal, como a característica que
distingue os seres humanos dos outros animais. Enquanto os outros animais estão
inseridos harmonicamente na natureza, os seres humanos são capazes de
transformá-la através do trabalho, possibilitando, assim, o surgimento da
cultura. O trabalho, em sentido amplo de trabalho material e intelectual, é a ação
transformadora da realidade dirigida por um projeto, ou seja, por uma
antecipação da ação pelo pensamento, sendo, por isso, consciente, deliberada e
intencional.
Ainda
que num primeiro momento a natureza se apresente como destino, através do
trabalho o ser humano supera os determinismos naturais, conseguindo sua
liberdade. Por isso, a liberdade é o resultado da ação transformadora do
ser humano sobre o mundo, de acordo com seus projetos.
Na
filosofia, o termo práxis é utilizado para delimitar a especificidade da
atividade humana, diferenciando-a dos outros animais. Práxis significa a união indissolúvel entre
teoria e prática, uma vez que, em toda ação humana sempre encontramos a teoria
(conceitos, representações, explicações, justificativas, intenções, etc.), mas “também
toda teoria, como expressão intelectual de ações humanas já realizadas ou por
realizar, é fecundada pela prática.” (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia
da educação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006, p. 76)
Quando
olhamos para a realidade, essa concepção que articula trabalho, cultura e
liberdade, parece de outro mundo, pois no dia-a-dia percebemos que a maioria
das pessoas estão presas a profissões pouco libertadoras e criativas (para nós, docentes, é só frequentarmos as salas de professores para constatarmos o desânimo, a apatia e o estresse). Na
verdade, o trabalho só pode ser considerado libertador se o trabalhador não for
explorado, “situação em que deixa de buscar a satisfação de suas necessidades
para realizar aquelas que foram impostas por outros. Quando isso ocorre, o
trabalho torna-se inadequado – e até um empecilho – à humanização: trata-se do
trabalho alienado.” (Idem, Ibidem,
p. 76)
Visão histórica da trabalho
Se fizermos uma retrospectiva histórica
veremos que a visão que prevalece sobre o trabalho é negativa. Na Bíblia, a
felicidade de Adão e Eva chega ao fim com o pecado original e a expulsão dos
dois do Paraíso. A partir daquele momento teriam que “ralar” para se
sustentarem com o "suor do próprio rosto". Sem falar do
"trabalho" do parto que coube a Eva. A própria etimologia da palavra
sugere tortura, sofrimento, labuta. Trabalho vem do termo latino tripaliare, do substantivo tripalium,aparelho de tortura formado
por três paus utilizado para prender os condenados e para manter os animais
difíceis de ferrar presos. Na Grécia e em Roma Antigas, enquanto o trabalho
manual era desvalorizado, pois feito por escravos, a atividade teórica, própria
dos homens livres, era considerada a mais nobre e digna dos seres humanos. Na
Idade Média, mesmo havendo Santo Tomás de Aquino tentado reabilitar o trabalho
manual, ao dizer que todos os trabalhos se equivalem, essa realidade não mudou
muito, uma vez que vários textos medievais consideram a ars mechanica (arte mecânica) uma arte inferior.
Na Idade Moderna, com a
passagem do feudalismo ao capitalismo, as técnicas são aperfeiçoadas,
permitindo o processo de acumulação de capital e a ampliação dos mercados
consumidores. O aumento da produção faz surgir os primeiros barracões, protótipos das
futuras fábricas. Nesses espaços, os trabalhadores se submetem a nova ordem
ditada pelo capital: a divisão do trabalho com ritmo e horários
preestabelecidos. A partir de então o resultado do trabalho deixa de pertencer
a quem o produziu, passando a produção a ser vendida pelo empresário, que se
apodera dos lucros. Encontramos aqui a origem da alienação na sociedade
industrial.
O verbo alienar vem do latim alienare, “afastar”, “distanciar”, “separar”.
Alienus significa “que pertence a
outro”, “alheio”, “estranho”. Alienar é, portanto, tornar alheio, é transferir
para outrem o que é seu.
Nas
sociedades nas quais os segmentos dominantes exploram o trabalho humano
(regimes de escravidão, servidão, sociedades capitalistas), os indivíduos
perdem a posse daquilo que eles produzem. Sendo assim,
“o produto do
trabalho encontra-se separado, alienado de quem o produziu. Com a perda da
posse do produto, o próprio indivíduo não mais se pertence: não escolhe o horário,
o ritmo de trabalho, nem decide sobre o valor do salário, não projeta o que
será feito, comandado de fora por forças estranhas a ele. Devido à alienação do
produto, o próprio indivíduo também se torna alienado, deixando de ser o centro
ou a referência de si mesmo.” (Idem, Ibidem, p.. 76-77)
Alienação na sociedade industrializada
Com o desenvolvimento do sistema
capitalista, a partir do nascimento das fábricas, nos séculos XVII e XVIII, a
alienação tornou-se mais evidente. Até então o trabalho era realizado nas
manufaturas, nas quais a atividade era predominantemente doméstica. Porém, com
o surgimento das fábricas, cresceu
“a dicotomia concepção-execução
do trabalho, ou seja, o processo de separação entre aqueles que concebem,
criam, inventam e que vai ser produzido e aqueles que são obrigados à simples
execução do trabalho.” (Idem, Ibidem, p. 76-77)
Com
o desenvolvimento do sistema fabril, o norte-americano Henry Ford introduziu, no
início do século XX, a linha de montagem na indústria automobilística.
Frederick Taylor (1856-1919) levou adiante a concepção do processo de produção
parcelado, estabelecendo os princípios do método científico de racionalização
da produção, o taylorismo.
“Esse sistema, que
visa a aumentar a produtividade e economizar tempo, suprimindo gestos
desnecessários e comportamentos supérfluos [...], foi implantado com sucesso e
logo extrapolou os domínios da fábrica, atingindo as demais empresas, os
esportes, a medicina, a escola e até a atividade da dona de casa.” (Idem, Ibidem, p.77)
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É isso, amigas e amigos. Próxima semana volto com a segunda parte do artigo. Por enquanto, fiquem com um dos letristas mais criativos do rap nacional, Gabriel, o Pensador, e sua bem humorada (e ácida) visão da instituição escolar e da nossa profissão.