Há aproximadamente quatro anos, comecei a me dar conta de que o insucesso dos meus projetos
(vitais e profissionais) era devido a inconsistência tanto da minha formação
cultural geral quanto da minha formação específica (Licenciatura em Filosofia
pela UFPE).
Depois de um período de
turbulência e crise, comecei, autodidaticamente, a buscar os conhecimentos e
saberes capazes de me tirar da situação de ignorância, medo e reduzida auto estima que
até aquele momento impediam que o meu potencial crítico-criativo se
desenvolvesse.
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Edgard Morin, filósofo francês autor do livro
A cabeça bem-feita, inspiração para o blog |
Nesse meu movimento de
autoconstrução da identidade (ou seja, da autoeducação que venho me proporcionando), tive acesso, há mais ou menos um ano, a um livro do pensador francês Edgar Morin, chamado “A
cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento”. Remontando a
Montaigne, Morin traz nesse pequeno livro, o conceito de “cabeça bem-feita”,
que nada mais é do que uma “cabeça”, ou seja, um sujeito que é capaz de dispor
de "uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas” e de “princípios
organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.”(Morin, 2011, p. 21).
Fazia tempo que pensava
em escrever um blog, mas sempre adiava a iniciativa, pois, ainda confuso,
não sabia ao certo qual seria a linha editorial. A ideia da “cabeça bem-feita”
me pareceu perfeita para batizar o projeto, pois era justamente essa competência
geral para colocar e tratar problemas, bem como a busca de princípios
organizadores que me permitissem ligar e dar sentido aos saberes, que procurava
naquele momento.
Em fevereiro de 2012
nasceu o blog Cabeça Bemfeita com o objetivo de ser um espaço dialógico de
reflexão, crítica e busca de sentido sobre algums conhecimentos que considero
fundamentais para o exercício de uma existência cidadã no mundo contemporâneo: a
filosofia, a arte, a ciência, a tecnologia e a comunicação.
Depois de cinco meses
de experimentações, no último mês de julho, o blog fez uma parada
para avaliação dessa minha primeira incursão na blogosfera. Acredito que os
aspectos positivos superaram as inúmeras limitações e equívocos, tão comuns
para quem ousa trilhar um caminho nunca antes percorrido.
Além do aspecto visual,
outras importantes mudanças marcam esse novo momento do blog. O presente texto tem
o objetivo de apresentar a vocês a nova identidade do Cabeça Bemfeita. Espero
que aprovem as mudanças!
1)
Nova formatação dos textos
A produção textual
requer equilíbrio entre os propósitos e intenções de quem escreve com as
características dos possíveis leitores. Tal qual uma criança que fica
deslumbrada com seu novo brinquedinho, fiquei eu com o fato de ter encontrado
um meio para exercitar a escrita (atividade que até então só havia praticado
por obrigação, seja na educação básica ou no ensino superior). Instigado, saí
escrevendo vorazmente e, quando percebia, os textos já estavam longos (ao menos
para os padrões do mundo "virtual", na maioria das vezes, superficial e
fragmentado).
Até a metade de 2011 acumulei sete anos de
trabalho, ou melhor, emprego alienado e sei como as atividades rotineiras, burocráticas e
reprodutivas que executamos tomam parte considerável do nosso tempo. Somando-se
o tempo de dedicação à família e, às vezes, a si próprio, não sobra muito
tempo para o cidadão médio se dedicar a leitura.
Como o blog tem um
declarado compromisso ético e político (ajudar outros sujeitos que, assim como
eu, herdaram uma condição sócio-econômica-cultural desfavorável, a se libertar
de todo tipo de alienação e a desvelar o discurso ideológico que mascara nossa
real situação de oprimidos), escreverei textos mais concisos, pensando
justamente naqueles/naquelas colegas que, presos à atividades alienantes, não têm tempo
para se dedicar a leituras fora do seu campo de atuação profissional.
Sem prejuízo da crítica
e da reflexão e sem ser menos profundo e rigoroso na abordagem dos diferentes temas
de interesse do blog, a ideia é oferecer textos que levem em conta a falta de
tempo que a maioria daqueles que desejo como meus leitores experimenta.
2) Reestruturação das páginas
Da primeira experiência
do blog, algumas páginas foram suprimidas, enquanto outras ganharam novos nomes
e objetivos. Cada página equivale a
uma área do conhecimento que considero fundamental para a realização dos meus
projetos (individuais e coletivos). Eis as páginas:
FILOSOFAR = Na página
filosofar, sem abrir mão dos temas e conceitos clássicos dentro da história da
filosofia, darei maior ênfase à sua dimensão metodológica, ou seja,
priorizarei a filosofia enquanto método de produção e crítica do conhecimento;
AISTHESIS
= O que é arte, história e filosofia da arte, arte contemporânea e arte pernambucana, são os
campos de interesse da página. Sempre apreciei muito a arte, mais nunca tive a
oportunidade de me dedicar sistematicamente ao seu estudo. A página AISTHESIS pretende ser um espaço de
discussão e reflexão sobre o universo artístico;
(CONS)CIÊNCIA E
TECNOLOGIA = No mundo contemporâneo a ciência e a tecnologia exercem cada vez
mais influência. Dominar conhecimentos básicos dessas duas áreas é fundamental
para o exercício da cidadania. Nessa página, além de discutirmos o que são
ciência e tecnologia, também refletiremos sobre as implicações éticas e políticas
dos seus diferentes usos;
MÉDIA MÍDIA = A
expressão “quarto poder” dimensiona bem a influência que a mídia exerce para além
da dimensão estritamente comunicacional. Política, economia, religião, arte,
esporte, comportamento, são alguns setores da cultura cujas concepções ideológicas e
práticas efetivas são legitimadas pelos meios de comunicação de massa. Não
podemos compreender a sociedade contemporânea sem uma análise crítica sobre a mídia. A página MÉDIA MÍDIA pretende ser uma espécie de “Observatório
da Imprensa” do blog Cabeça Bemfeita;
Essas quatro páginas
têm o objetivo de ser um espaço de investigação, aprofundamento e
sistematização das informações e conhecimentos que for adquirindo sobre as
áreas contempladas em cada página.
Como sou fruto da
educação formal de péssima qualidade que a quase totalidade das instituições
escolares, sejam elas públicas ou privadas, da educação básica ou superior,
oferecem, não consegui construir uma base mais firme sobre os conhecimentos
acima citados. O blog surgiu justamente para minimizar os efeitos nocivos que o
sistema educacional brasileiro me legou.
Como
as duas páginas a seguir têm um funcionamento bem particular, resolvi falar
sobre elas separadamente.
3)
FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA
Apesar
dos temas e questões levantados pelo Cabeça interessarem a todo/toda
aquele/aquela que se preocupa em rever crítica e reflexivamente suas práticas e
representações (principalmente para quem trabalha com pesquisa, seleção, análise, sistematização,
produção e transmissão de informações e conhecimentos, nos diferentes códigos e
linguagens), boa parte dos meus leitores é formada por professores. Pensando em
você, amigo, professor, amiga, professora, retomarei a página FORMAÇÃO
(DES)CONTÍNUA, nosso espaço de reflexão sobre pedagogia, filosofia e psicologia
da educação, didática, ciências auxiliares da educação, além de questões atualmente em evidência no universo educacional.
Toda quinta
publicarei um texto que, segundo meus critérios, poderá contribuir com
o processo de formação permanente de boa parte dos meus pares que, sem tempo
para estudar, permanecem vítimas da alienação (pois quem não estuda, não lê, e
quem não lê, fica com uma consciência limitada, tanto sobre o mundo, quanto
sobre si mesmo/mesma) e da dicotomia entre teoria e prática, tão comum entre os que trabalham com educação.
4)
CLÁSSICOS DA VEZ
Essa é outra página da
primeira fase do blog que ficou só na intenção. No primeiro semestre desse ano
voltei a lecionar depois de um afastamento involuntário devido a falta de
habilidade dos espaços onde até então trabalhava em conviver com um professor
reflexivo. Fui, inclusive, acusado por uma tradicional escola recifense, tal qual um Sócrates contemporâneo, de corromper a juventude, ou melhor, de "promover uma guerra virtual" (afinal, estamos no século XXI e não na Grécia Antiga!)contra o estabelecimento citado, o que, obviamente, não aconteceu.
Quase na mesma época do
nascimento do Cabeça Bemfeita, o Instituto Helena Lubienska abriu suas portas
para mim. Era (está sendo) a oportunidade que estava esperando para começar a colocar em
prática as competências para ensinar no século XXI (Perrenoud, 2001) que venho buscando
construir, principalmente nos dois últimos anos.
A carga de trabalho
ficou bem intensa, pois não é tarefa das mais simples construir um método autoral de
ensino e aprendizagem, incluindo material didático físico e virtual (blog),
fundamentado na interdisciplinaridade, no desenvolvimento de competências e
habilidades reflexivas, na solução de situações-problema, na educação estética
(com foco na arte pernambucana) e na abertura para os temas sociais (temas
transversais).
Quem não pertence as
classes privilegiadas sabe o quanto é difícil mergulhar no universo da arte, da
ciência, da filosofia, enfim, no mundo da cultura, quando se tem que batalhar
diariamente apenas para (mal) satisfazer as necessidades do corpo (moradia,
alimentação, transporte), já que a remuneração média do professor não permite
que ele satisfaça suas necessidades simbólicas, como se dedicar as artes, as
ciências e a filosofia.
Como minha preocupação no
momento tem sido mais pragmática, pois não é fácil sustentar os dois seres
responsáveis pelo sentido da minha existência, meus filhos Caio e Ravi, confesso que tenho utilizado meu escasso tempo “livre” para fazer leituras e
escrever textos que, de uma forma ou de outra, têm o objetivo, além da formação
do meu espírito, de me ajudar na superação de minha situação material imediata,
o que tem deixado um pouco de lado a fruição de obras de arte.
No entanto, como não
posso abrir mão da minha educação estética, pensei na seguinte solução:
mensalmente fruir uma obra literária, um disco, uma história em quadrinhos e um
filme (se possível, todas essas linguagens, se não, pelos duas), considerados
clássicos pela crítica especializada, e compartilhar, também mensalmente, com
vocês minhas impressões.
5)
CABEÇA BEMFEITA TV e RÁDIO CABEÇA
Na
primeira fase do blog o audiovisual deixou muito a desejar, mais pela falta de
domínio (na verdade, de tempo para aprender) da tecnologia do que uma opção
deliberada. Aproveito essa volta do
Cabeça para começar a investir na abertura para a crítica e a reflexão feita
por autores que usam o som e a imagem como meios de expressão. A Cabeça Bemfeita TV e a Rádio Cabeça surgiram para minimizar
a carência sentida na primeira experiência do blog.
Com relação a Cabeça Bemfeita TV, por
enquanto, a programação que irá ao ar será feita automaticamente pelo youtube a
partir de palavras-chave sugeridas por mim. A ideia é que em breve, assim que
viabilizar os recursos tecnológicos e mergulhar mais na linguagem do
audiovisual, o blog tenha na sua grade de programação produções próprias. Dando início a programação, sugeri os conceitos norteadores do blog, filosofia, arte, tecnologia e comunicação.
Já a Rádio Cabeça surgiu para compartilhar com vocês o som que vem fazendo minha cabeça há mais de 20 anos. A ideia era abrir espaço só para o áudio, mas, pela minha limitação técnica, a saída foi postar as músicas através da tecnologia do vídeo. Aqui também a seleção específia das músicas será feita pelo youtube a partir das bandas ou cantores/cantoras sugeridas por mim. A seleção é bem diversificada e representativa das diferentes identidades musicais pelas quais passei até o presente momento.
Apesar da heterogeneidade (não se surpreendam em ouvir por aqui o jazz-rap do The Roots os experimentalismos sonoros de Hermeto Pascoal) de estilos com os quais me identifico, há uma característica que liga os artistas que serão destacados: todos, de uma forma ou de outra, demonstram uma postura crítica e reflexiva.
E para começar, duas bandas que me mostraram, quando eu tinha 12 anos, que a música pode ser um espaço de reflexão política, Plebe Rude e Public Enemy. Fechando a programação dessa primeira experiência da Rádio Cabeça, dois músicos que me indicaram novas possibilidades de estruturas sonoras, Frank Zappa e Hermeto Pascoal. Espero que vocês curtam!
6)
Periodicidade das postagens
Até por ser uma
atividade experimental, na primeira fase do blog não havia um intervalo fixo
entre uma postagem e outra. Agora, visando sistematizar e organizar melhor meus
estudos e reflexões, e também orientar a leitura dos seguidores e visitantes
fortuitos, os textos terão a seguinte periodicidade:
a)
Todo domingo publicarei alguma coisa que,
direta ou indiretamente, terá alguma relação com as áreas do conhecimento contempladas
nas páginas FILOSOFAR, AISTHESIS,
(CONS)CIÊNCIA E TECNOLOGIA e MÉDIA MÍDIA. Tanto posso publicar um ensaio, uma resenha crítica, um resumo de alguma obra, ou mesmo alguma dica cultural, como
sites, livros, músicas, enfim, a ideia é ficar compartilhando com vocês um pouco
do que for vivenciando nesse meu processo de construção de uma cabeça
bem-feita;
Observações:
1)
Os problemas e conceitos específicos das
áreas do conhecimento que forem citados nas postagens serão aprofundados nas respectivas páginas;
2)
O texto inaugural das publicações dos
domingo será postado no dia 26/08/12 e fará alguma referência à filosofia e ao filosofar. Nos domingos
subsequentes, arte (02/09), ciência e tecnologia (09/09) e comunicação (16/09), se sucederão como objetos
de análise crítica das postagens e páginas do blog.
b)
Às quintas, começando no próximo dia 23/08, publicarei um novo texto (ou
alguma dica cultural) especificamente para os professores
(principalmente aqueles e aquelas que não tiveram uma formação inicial adequada
e nem dispõem de programas eficazes de formação continuada) que acompanham o
blog poderem refletir sobre suas práticas e representações;
c)
Mensalmente, na página CLÁSSICOS DA VEZ,
um texto trará minhas impressões sobre algumas obras fundamentais (sempre dentro das linguagens que me sensibilizam mais profundamente, a música, a literatura, as
histórias em quadrinhos e o cinema) para a formação do espírito humano.
A partir da publicação do próximo dia 23/08, terei aproximadamente um mês para
curtir as obras escolhidas e escrever sobre elas. Até lá!
É isso aí, galera, o Cabeça está de volta e mais do que nunca conta com a sua participação para se consolidar como um espaço de reflexão e crítica da cultura, oferecendo uma alternativa de discussão e formação permanente para todo/toda livre pensador/pensadora que deseja, não acumular ou empilhar saberes, mas construir uma cabeça bem-feita.
Obrigado por dedicar seu precioso tempo para dialogar comigo!!! Um forte abraço e até quinta que vem!
Zebé Neto
filósofo, escritor e educador