quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Formação continuada: o resultado demora, mas chega!


Amigo, leitor, amiga, leitora, do Cabeça Bemfeita, hoje é um dia muito especial para mim. Logo mais à tarde acontecerá um encontro que venho imaginando há aproximadamente quatro anos, quando, depois de uma profunda crise (existencial e profissional), resolvi reagir e mudar de postura.

Serei recebido por Maria Maciel e Cândida Galvão, duas das diretoras do Instituto Helena Lubienska, escola pernambucana com reconhecidos serviços prestados à nossa cultura. Junto à Diretora Pedagógica, Rozário Azevedo, abriremos uma roda de diálogo reflexivo para falarmos sobre educação. Finalmente, depois de muito procurar, encontrei uma casa de educação que se mostra aberta ao diálogo.
 
Por uma feliz coincidência, hoje também é dia das publicações destinadas à nossa formação continuada. Vou aproveitar esse acontecimento para falar sobre a importância do estudo permanente para quem deseja superar sua condição histórico-social e, consequentemente, deixar de ser um mero técnico executor de tarefas rotineiras e repetitivas e se transformar num intelectual transformador da realidade.

Quem acompanha o blog sabe o quanto já falei sobre meu histórico de limitações e medos. Lá em 2008, quando rompi com a escuridão e a ignorância, minhas frustrações, inseguranças e dúvidas passaram de inibidores da minha autoestima e criatividade para “detonadores” da minha busca por saber.
 
Ora, se já temos todas as respostas, por qual razão estudar? Agora, se nos percebemos ignorantes e não conhecemos ao certo o que nos causa medo e nos paralisa, é porque está na hora de buscar o conhecimento. Foi isso que comecei a fazer.
 
Quando percebi que minhas frustações e insucessos decorriam em grande parte da minha formação inicial descurada (chamo de formação inicial a educação básica mais a graduação), tomei uma decisão que mudaria para sempre minha vida: assumi minha ignorância e tomei a condução do meu próprio processo de formação.
 
Meus estudos (esporádicos e ametódicos no início) foram, aos poucos, ampliando minha consciência sobre o mundo, as pessoas e, principalmente, sobre mim mesmo. Passei a compreender a importância política da docência e percebi como a Filosofia, área na qual havia me “formado”, poderia ajudar  na travessia que precisava fazer (aliás, uma travessia que todos nós, formados nos valores da sociedade industrial temos que fazer, se não quisermos nos sentir “estrangeiros” no nosso próprio tempo, afinal como diz o filósofo Paulinho da Viola: “meu tempo é hoje”!) do modelo tradicional para as perspectivas mais atuais em educação.
 
Reconheço que não é nada fácil assumir uma postura crítica e reflexiva numa sociedade hierárquica como a nossa, onde somos “educados” para obedecer e não discutir as regras impostas de cima para baixo por grupos minoritários de burocratas.

Eu mesmo passei por alguns dissabores. Fui demitido de duas escolas que se mostraram inábeis para encarar um diálogo sincero, verdadeiro, rigoroso, mas, acima de tudo, afetuoso (não nos esqueçamos que, desde a Grécia, o diálogo filosófico é realizado por amantes do conhecimento). Inclusive, como já falei por aí no blog, fui perseguido em uma delas, sendo acusado, leviana e injustamente, de “promover guerra virtual” contra a escola, o quê, de fato, nunca aconteceu.

As frequentes quedas só fizeram me fortalecer. Passei quase um ano desempregado, sem dinheiro, pois minha conta do FGTS fora retida, já que a dona do estabelecimento em questão tentara me demitir por justa causa, porque teria eu, quase que como um Sócrates contemporâneo, “corrompido a juventude”, ou seja, colocado os estudantes contra a escola. Bem, algo lamentável (até porque partiu de quem conduz uma casa responsável por formar várias “cabeças bem-feitas” aqui do Recife, mas, que, por falta de humildade intelectual e afetiva, e movida pelas paixões, jogou fora décadas de bons serviços prestados), mas que deve ser registrado para que fatos como esses não voltem a acontecer num espaço que deveria ser democrático, qual seja, a escola.

Mas, apelando agora para a velha e boa sabedoria popular, não há nada como um dia após o outro.

Aproveitei o nascimento do meu primeiro filho há dois anos, Caio, para também renascer junto com ele. Logo na sequência chegou Ravi, meu segundo filho, e com ele meu renascimento se completou. São esses caras, amigo, leitor, amiga, leitora, que têm me dado força para continuar firme depois de tantos infortúnios.
 
O baque foi grande, mas não fraquejei. Aproveitei o período em que fiquei desempregado para finalmente sistematizar e organizar minhas reflexões. Meus estudos ficaram mais rigorosos, passei a desenvolver métodos de pesquisa, comecei a realizar leituras críticas e fazer os necessários fichamentos e esquemas de estudo (procedimentos, aliás, que todo aquele que produz informação e conhecimento deve ter).  

Hoje, depois de tantos infortúnios, sou uma pessoa melhor e mais feliz (apesar da dimensão material não acompanhar, ainda, o crescimento simbólico-afetivo), além de ser um profissional mais competente do que era quando tudo isso começou.
 
O encontro que terei logo mais pode frustrar todas as minhas expectativas (o que considero difícil, pois a leitura que fiz do Projeto Político Pedagógico da escola apontam nossas afinidades), que é a de colocar à disposição da escola aquilo que sei fazer de melhor: acompanhar a ação pedagógica, crítica e reflexivamente, promovendo a passagem "de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma educação sistematizada (alçada ao nível da consciência filosófica)" (SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo, Cortez, 1980, p. 54)
 
A única certeza que tenho é: se não tivesse decidido romper lá atrás com minhas limitações e medos e investido com tudo na minha formação continuada, não estaria escrevendo esse texto agora, nem sentido um friozinho na barriga por estar, daqui a pouco, sugerindo para grandes nomes da educação pernambucana uma proposta de construção de uma escola reflexiva, conforme defendem estudiosos da educação contemporânea, como Phillipe Perrenoud, Edgard Morin (citados, inclusive, no P.P.P. da escola), Henry Giroux e Isabel Alarcão.  
 
Bem, é isso! Vou correndo agora preparar o texto da página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA. E hoje, como falei em Projeto Político Pedagógico, publico o ponto 6.4.1., das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Basica, documento de 2010, que traz orientações sobre como deve ser o projeto que conduz as representações e práticas dos estabelecimentos escolares.
 
Um forte abraço e continuemos a nos autoeducar!
 
 
Zebé Neto
filósofo, escritor e educador
 
  

  

domingo, 26 de agosto de 2012

Sem filosofia, sem cidadania

Olá, amigo, olá amiga, que acompanha o Cabeça Bemfeita, tudo certo? Tirando o texto que serviu para apresentar sua nova identidade, esta é a 2ª postagem da nova fase do blog. Conforme sua orientação mais recente, os domingos serão reservados para compartilhar com vocês cinco grandes áreas do conhecimento que me interessam: filosofia, arte, comunicação, ciência e tecnologia.

Nas postagens trarei sempre alguma questão do cotidiano relacionada às áreas de interesse do blog. Nas páginas específicas aprofundarei os conceitos relacionados às áreas referidas nas postagens. Por exemplo, hoje o texto faz referência à filosofia. Isto significa que, na página FILOSOFAR alguns conceitos ligados a esta área do conhecimento serão aprofundados. 


E dentro do espírito da Cabeça Bemfeita TV, a programação acompanhará as palavras-chave da postagem. Espero que os vídeos sejam interessantes (como já falei, a seleção é automaticamente feita pelo youtube a partir das palavras que sugiro, por isso, vocês poderão encontrar verdadeiras pérolas, ou produções sem maiores qualidades estéticas ou aprofundamento temático).


Já a programação da Rádio Cabeça vem trazendo uma rapaziada que tematizou a questão da cidadania nas suas canções. Rage Against the Machine, Devotos, The Roots e The Clash se alternarão na programação da  sua Rádio Cabeça.

  
Agora sim, fiquem com a primeira postagem dos domingos. Quinta-feira eu volto com mais uma reflexão sobre educação na página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA. Até lá!

(Observação: Esta postagem foi originalmente publicada domingo, dia 26, e revista e ampliada no dia 28 de agosto de 2012)



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Sem filosofia, sem cidadania 



Ainda que nenhum conhecimento por si só tenha o poder de trazer felicidade ou, quem sabe, uma vida mais digna, sou da opinião de que sem uma formação filosófica básica fica difícil (não digo impossível para não desanimar os que ainda não se iniciaram nos estudos filosóficos) exercer de fato a cidadania.


No presente texto, defenderei a ideia que se não desenvolvermos as competências filosóficas que uma educação para o filosofar pode ajudar a desenvolver, ficaremos sempre aquém do exercício pleno da cidadania.  



Semana passada enquanto preparava uma aula para um cursinho com o qual colaboro aqui no Recife (o nome da instituição é "Os mestres", mas eu só tenho graduação!), me veio a ideia para esta primeira postagem das reflexões dominicais que pretendo manter com vocês, prezado leitor, prezada leitora, sobre filosofia, arte, comunicação, ciência e tecnologia.

Levando em consideração a lição kantiana que não se ensina filosofia, mas a filosofar, resolvi compartilhar com a turma as competências filosóficas conforme constam nas orientações curriculares nacionais de Filosofia para o ensino médio, volume dedicado às Ciências Humanas e suas Tecnologias.


 Ao chegar ao tópico “o significado das competências filosóficas”, indaguei: a cidadania plena pode ser alcançada por quem não detém um mínimo de conhecimento filosófico? Para mim, não.


Voltando minha atenção pra galera que estuda no cursinho acima citado, ponderei: possivelmente, parte considerável da turma não desenvolveu no ensino médio as competências filosóficas consideradas fundamentais para o exercício da cidadania. Mesmo conseguindo alcançar sua aprovação, qual será a qualidade da cidadania desses futuros profissionais?

Me pareceu ser bem pertinente discutir sobre a importância da Filosofia para a construção de sujeitos capazes de vivenciar plenamente seus direitos e deveres. É isso que passo a fazer a partir de agora.


Primeiro falarei sobre cidadania, depois, trago algumas considerações sobre filosofia e, finalizo, defendendo que esta é condição necessária para o exercício daquela.




A cidadania




Apesar de usado e abusado, o que contribui para a perda de significado, o termo “cidadania” tem uma história, e como tal, cabe um breve resgate de sua história para superar a vulgarização deste conceito.

A cidadania, fundada nos valores de liberdade e democracia, é uma conquista recente.  A palavra cidade (em latim civitas, civitatis), por volta do século XIII, deu origem ao termo cidadão para se referir aos indivíduos que abandonavam os campos e se dirigiam às cidades.


 Com a explosão dos ideais liberais a partir do século XVIII, a burguesia impôs à antiga ordem de soberanos e súditos o conceito de cidadania, atribuindo ao cidadão, direitos e deveres que antes não tinha.


“No entanto, os ideais democráticos, que para o próprio liberalismo estavam na base de seus valores, nem sempre se expressaram de maneira extensiva, por se restringirem aos indivíduos de posse, com exclusão do restante.” (ARANHA, 2008, p.180) O voto, por exemplo, até o século XX era um privilégio dos proprietários.  Só no século passado é que pobres, mulheres e analfabetos ganharam o direito de votar. 


A gradual conquista de direitos também ocorreu devido à luta organizada da sociedade civil através de diversos movimentos sociais, como o dos trabalhadores, mulheres, minorias étnicas, e outros segmentos que sofriam (e ainda sofrem) discriminação.


Algumas reivindicações da sociedade civil organizada foram codificados em diversos documentos, entre os quais destaca-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, “e que em seus trinta artigos estabelece parâmetros a respeito da defesa dos direitos do cidadão.” (Idem, p. 180)   


Vale lembrar que nas democracias ocidentais, de orientação capitalista, ter o direito é diferente de exercê-lo, pois há dois aspectos da democracia que devem ser considerados: o formal e o substancial. A democracia formal caracteriza-se pela presença de instituições que caracterizam tal regime: sufrágio secreto e universal, autonomia dos poderes executivo, legislativo e judiciário, pluripartidarismo, liberdade de pensamento e expressão, etc. Por sua vez, a democracia substancial diz respeito aos fins alcançados, ou seja, se de fato a maioria da população tem acesso aos direitos consubstanciados nas “constituições democráticas”.


“Desse modo, é preciso reconhecer que nem toda população dos países ditos democráticos é constituída por cidadãos plenos, uma vez que muitos não usufruem daqueles direitos já referidos” (Idem, p. 181)


Infelizmente, o Brasil é um exemplo de democracia formal, pois, mesmo havendo a recuperação das instituições necessárias para a experiência democrática após vinte anos de ditadura militar, pouca coisa mudou com relação à distribuição dos bens materiais e simbólicos. É só observarmos os índices brasileiros e logo constatamos que cerca de 2/3 da riqueza nacional está nas mãos de aproximadamente 10% da população.

Numa realidade como esta, desigual e injusta, o nível de participação na construção e divisão dos bens materiais e simbólicos está, no meu entender, diretamente relacionada à capacidade do indivíduo em compreender o contexto social-econômico-político no qual está inserido, através de uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre a realidade natural e humana, apresentando soluções criativas quando a situação o exigir.


Sem medo de errar, afirmo que a grande maioria da população brasileira que concluiu o ensino médio (aqui mim incluo, prezado leitor, prezada leitora, e a maioria de vocês) não desenvolveu competências filosóficas básicas para o pleno exercício da cidadania.

Sendo assim, concluo esta primeira parte do texto "Sem filosifia, sem cidadania", dizendo que: a maioria da população brasileira ou não exerce de fato a cidadania, ou, quando o faz, seu exercício fica aquém das possibilidades que poderia atingir se as competências filosóficas que a educação básica deveria ter ajudado a construir tivessem sido assimiladas criticamente.   








  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Assumamos nossa própria formação

Olá, leitor e leitora do Cabeça Bemfeita! 

Conforme a  nova identidade  do blog, hoje a publicação é especialmente destinada (mas não exclusiva, porque qualquer profissional, principalmente quem trabalha com informação e conhecimento, deveria se preocupar com sua formação) para o/a professor/professora. Para inaugurar nosso espaço de reflexão sobre nossa profissão, falo sobre a importância de assumirmos nossa própria formação, pois dificilmente encontraremos instituições, sejam cursos de pedagogia/licenciatura ou escolas, que promovam uma formação adequada .

Acompanhando a discussão da postagem, a Cabeça Bemfeita TV traz alguns vídeos sobre formação continuada. Lembro que os vídeos são selecionados automaticamente pelo youtube a partir das palavras-chave que sugiro, por isso, a qualidade dos vídeos em cartaz variará bastante.

Já na Rádio Cabeça, procurei priorizar artistas que dialogam mais de perto com a cultura juvenil. Geralmente nós, professores, por considerarmos que nossos estudantes só escutam músicas de menor valor, tendemos a impor-lhes obras consideradas de inegável qualidade estética. Obviamente que Chico (Buarque), Caetano e Gil têm muito o que dizer para as novas gerações. Isso não impede, contudo, que tragamos para sala de aula a galera mais jovem que também vem mandando seu recado. Mundo Livre s/a, Devotos, Criolo (que inclusive estabeleceu um diálogo com Chico Buarque com um rap feito a partir da música "cálice") e Racionais MC's, que vão se revezar na programação da Rádio Cabeça dessa semana, representam ótima oportunidade para reflexão sobre questões éticas, políticas e estéticas.

Espero que gostem! 


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Assumamos nossa própria formação


Sempre que os números oficiais da educação brasileira são divulgados, como na última semana, quando foi anunciado na terça, 14, o resultado do último  Ideb ressurge a discussão sobre um maior investimento na melhoria da qualidade da educação no nosso país.
 
Falar em melhoria na qualidade da educação significa falar na revalorização (ou melhor, valorização, pois essa nunca foi uma preocupação do nosso país) da profissão docente. Obviamente que revalorizar (ou valorizar) significa pagar  salários mais justos. Mas, no meu entender, mais importante até do que salários elevados, é o cuidado com a formação do professor.
Em tese, um professor bem preparado teria condições de, através do seu trabalho intelectual transformador, construir uma existência, material e simbólica, satisfatória.
E como um profissional da educação se torna bem preparado? Resposta óbvia: nos cursos de pedagogia e licenciatura, aos quais cabe “proporcionar uma compreensão sistematizada da educação, a fim de que o trabalho pedagógico se desenvolva para além do senso comum e se torne realmente uma atividade intencional.” (ARANHA, 2008, p. 44)  
No entanto, a maioria dos cursos de formação realiza uma atividade meramente burocrática, ao invés de serem momentos efetivos de reflexão e estudo obre a educação.
Como as escolas também não abrem espaço para a formação continuada do professor (por favor, não me venham dizer que aquelas palestras das semanas pedagógicas, proferidas por renomados especialistas em algum tema da moda, ou aquelas "reuniões pedagógicas" estéreis onde se discute de tudo, menos o pedagógico, funcionam como formação continuada!), significa que o profissional que não teve o privilégio de ter uma formação inicial adequada (a grande maioria), tenderá a ser um professor mediano, aquele que só executa as políticas pedagógicas determinadas de cima para baixo por uma minoria de burocratas, na maioria das vezes, sem conhecimentos e competências necessários para a construção de uma proposta pedagógica democrática e significativa.
Por experiência própria, digo-lhes: a satisfação e a realização com a nossa profissão é proporcional a qualidade da nossa formação. Até o momento em que estive preso a ilusão de que por haver me formado em Filosofia, poderia ser professor, minhas experiências profissionais foram frustrantes.
Mas, quando despertei do sono dogmático e percebi minha ignorância (devido a minha formação descurada), minha relação com a profissão (e comigo mesmo) começou a mudar. Hoje, prezado professor, prezada professora, vivo o momento mais pleno e feliz da minha vida (profissional e pessoalmente falando), pois, há uns quatro anos, rompi com o medo e a ignorância e assumi meu próprio processo de formação permanente.
Se ainda tenho dificuldades para efetivar a educação dos meus sonhos, pelo menos desenvolvi (e continuo aprimorando) algumas competências crítico-reflexivas que me permitem compreender minha situação, avaliar minhas práticas e representações e apresentar soluções criativas quando as dificuldades cotidianas as exigirem.
***
 
A partir de hoje, toda quinta-feira, gostaria de compartilhar com vocês um pouco das informações e conhecimentos que venho construindo nesse meu processo de autoformação permanente. Quem sabe minhas experiências possam estimular outros professores e professoras a assumirem a condução do seu próprio percurso de formação.
A cada nova postagem, aprofundarei na página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA algum conceito, tema ou problema citado nos textos publicados. Hoje, por exemplo, falo sobre a qualificação, a formação pedagógica e a formação ética e política. Entrem lá e confiram!  
Abração e até quinta!

Zebé Neto
filósofo, escritor e educador

 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Novo Cabeça Bemfeita


Há aproximadamente quatro anos, comecei a me dar conta de que o insucesso dos meus projetos (vitais e profissionais) era devido a inconsistência tanto da minha formação cultural geral quanto da minha formação específica (Licenciatura em Filosofia pela UFPE).
Depois de um período de turbulência e crise, comecei, autodidaticamente, a buscar os conhecimentos e saberes capazes de me tirar da situação de ignorância, medo e reduzida auto estima que até aquele momento impediam que o meu potencial crítico-criativo se desenvolvesse.

Edgard Morin, filósofo francês autor do livro
A cabeça bem-feita, inspiração para o blog
Nesse meu movimento de autoconstrução da identidade (ou seja, da autoeducação que venho me proporcionando), tive acesso, há mais ou menos um ano, a um livro do pensador francês Edgar Morin, chamado “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento”. Remontando a Montaigne, Morin traz nesse pequeno livro, o conceito de “cabeça bem-feita”, que nada mais é do que uma “cabeça”, ou seja, um sujeito que é capaz de dispor de "uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas” e de “princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.”(Morin, 2011, p. 21).

Fazia tempo que pensava em escrever um blog, mas sempre adiava a iniciativa, pois, ainda confuso, não sabia ao certo qual seria a linha editorial. A ideia da “cabeça bem-feita” me pareceu perfeita para batizar o projeto, pois era justamente essa competência geral para colocar e tratar problemas, bem como a busca de princípios organizadores que me permitissem ligar e dar sentido aos saberes, que procurava naquele momento.
Em fevereiro de 2012 nasceu o blog Cabeça Bemfeita com o objetivo de ser um espaço dialógico de reflexão, crítica e busca de sentido sobre algums conhecimentos que considero fundamentais para o exercício de uma existência cidadã no mundo contemporâneo: a filosofia, a arte, a ciência, a tecnologia e a comunicação.
Depois de cinco meses de experimentações, no último mês de julho, o blog fez uma parada para avaliação dessa minha primeira incursão na blogosfera. Acredito que os aspectos positivos superaram as inúmeras limitações e equívocos, tão comuns para quem ousa trilhar um caminho nunca antes percorrido.  
Além do aspecto visual, outras importantes mudanças marcam esse novo momento do blog. O presente texto tem o objetivo de apresentar a vocês a nova identidade do Cabeça Bemfeita. Espero que aprovem as mudanças!

1)      Nova formatação dos textos

A produção textual requer equilíbrio entre os propósitos e intenções de quem escreve com as características dos possíveis leitores. Tal qual uma criança que fica deslumbrada com seu novo brinquedinho, fiquei eu com o fato de ter encontrado um meio para exercitar a escrita (atividade que até então só havia praticado por obrigação, seja na educação básica ou no ensino superior). Instigado, saí escrevendo vorazmente e, quando percebia, os textos já estavam longos (ao menos para os padrões do mundo "virtual", na maioria das vezes, superficial e fragmentado).
Até a metade de 2011 acumulei sete anos de trabalho, ou melhor, emprego alienado e sei como as atividades rotineiras, burocráticas e reprodutivas que executamos tomam parte considerável do nosso tempo. Somando-se o tempo de dedicação à família e, às vezes,  a si próprio, não sobra muito tempo para o cidadão médio se dedicar a leitura.
Como o blog tem um declarado compromisso ético e político (ajudar outros sujeitos que, assim como eu, herdaram uma condição sócio-econômica-cultural desfavorável, a se libertar de todo tipo de alienação e a desvelar o discurso ideológico que mascara nossa real situação de oprimidos), escreverei textos mais concisos, pensando justamente naqueles/naquelas colegas que, presos à atividades alienantes, não têm tempo para se dedicar a leituras fora do seu campo de atuação profissional.
Sem prejuízo da crítica e da reflexão e sem ser menos profundo e rigoroso na abordagem dos diferentes temas de interesse do blog, a ideia é oferecer textos que levem em conta a falta de tempo que a maioria daqueles que desejo como meus leitores experimenta.


 2) Reestruturação das páginas

Da primeira experiência do blog, algumas páginas foram suprimidas, enquanto outras ganharam novos nomes e objetivos. Cada página equivale a uma área do conhecimento que considero fundamental para a realização dos meus projetos (individuais e coletivos). Eis as páginas:
FILOSOFAR = Na página filosofar, sem abrir mão dos temas e conceitos clássicos dentro da história da filosofia, darei maior ênfase à sua dimensão metodológica, ou seja, priorizarei a filosofia enquanto método de produção e crítica do conhecimento;
AISTHESIS = O que é arte, história e filosofia da arte, arte contemporânea e arte pernambucana, são os campos de interesse da página. Sempre apreciei muito a arte, mais nunca tive a oportunidade de me dedicar sistematicamente ao seu estudo. A página AISTHESIS pretende ser um espaço de discussão e reflexão sobre o universo artístico;
(CONS)CIÊNCIA E TECNOLOGIA = No mundo contemporâneo a ciência e a tecnologia exercem cada vez mais influência. Dominar conhecimentos básicos dessas duas áreas é fundamental para o exercício da cidadania. Nessa página, além de discutirmos o que são ciência e tecnologia, também refletiremos sobre as implicações éticas e políticas dos seus diferentes usos;
MÉDIA MÍDIA = A expressão “quarto poder” dimensiona bem a influência que a mídia exerce para além da dimensão estritamente comunicacional. Política, economia, religião, arte, esporte, comportamento, são alguns setores da cultura cujas concepções ideológicas e práticas efetivas são legitimadas pelos meios de comunicação de massa. Não podemos compreender a sociedade contemporânea sem uma análise crítica sobre a mídia. A página MÉDIA MÍDIA pretende ser uma espécie de “Observatório da Imprensa” do blog Cabeça Bemfeita;
Essas quatro páginas têm o objetivo de ser um espaço de investigação, aprofundamento e sistematização das informações e conhecimentos que for adquirindo sobre as áreas contempladas em cada página.
Como sou fruto da educação formal de péssima qualidade que a quase totalidade das instituições escolares, sejam elas públicas ou privadas, da educação básica ou superior, oferecem, não consegui construir uma base mais firme sobre os conhecimentos acima citados. O blog surgiu justamente para minimizar os efeitos nocivos que o sistema educacional brasileiro me legou.
Como as duas páginas a seguir têm um funcionamento bem particular, resolvi falar sobre elas separadamente.

3)      FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA 
Apesar dos temas e questões levantados pelo Cabeça interessarem a todo/toda aquele/aquela que se preocupa em rever crítica e reflexivamente suas práticas e representações (principalmente para quem trabalha com  pesquisa, seleção, análise, sistematização, produção e transmissão de informações e conhecimentos, nos diferentes códigos e linguagens), boa parte dos meus leitores é formada por professores. Pensando em você, amigo, professor, amiga, professora, retomarei a página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA, nosso espaço de reflexão sobre pedagogia, filosofia e psicologia da educação, didática, ciências auxiliares da educação, além de questões atualmente em evidência no universo educacional.

Toda quinta publicarei um texto que, segundo meus critérios, poderá contribuir com o processo de formação permanente de boa parte dos meus pares que, sem tempo para estudar, permanecem vítimas da alienação (pois quem não estuda, não lê, e quem não lê, fica com uma consciência limitada, tanto sobre o mundo, quanto sobre si mesmo/mesma) e da dicotomia entre teoria e prática, tão comum entre os que trabalham com educação.

4)      CLÁSSICOS DA VEZ

Essa é outra página da primeira fase do blog que ficou só na intenção. No primeiro semestre desse ano voltei a lecionar depois de um afastamento involuntário devido a falta de habilidade dos espaços onde até então trabalhava em conviver com um professor reflexivo. Fui, inclusive, acusado por uma tradicional escola recifense, tal qual um Sócrates contemporâneo, de corromper a juventude, ou melhor, de "promover uma guerra virtual" (afinal, estamos no século XXI e não na Grécia Antiga!)contra o estabelecimento citado, o que, obviamente, não aconteceu. 
Quase na mesma época do nascimento do Cabeça Bemfeita, o Instituto Helena Lubienska abriu suas portas para mim. Era (está sendo) a oportunidade que estava esperando para começar a colocar em prática as competências para ensinar no século XXI (Perrenoud, 2001) que venho buscando construir, principalmente nos dois últimos anos.
A carga de trabalho ficou bem intensa, pois não é tarefa das mais simples construir um método autoral de ensino e aprendizagem, incluindo material didático físico e virtual (blog), fundamentado na interdisciplinaridade, no desenvolvimento de competências e habilidades reflexivas, na solução de situações-problema, na educação estética (com foco na arte pernambucana) e na abertura para os temas sociais (temas transversais). 
Quem não pertence as classes privilegiadas sabe o quanto é difícil mergulhar no universo da arte, da ciência, da filosofia, enfim, no mundo da cultura, quando se tem que batalhar diariamente apenas para (mal) satisfazer as necessidades do corpo (moradia, alimentação, transporte), já que a remuneração média do professor não permite que ele satisfaça suas necessidades simbólicas, como se dedicar as artes, as ciências e a filosofia.
Como minha preocupação no momento tem sido mais pragmática, pois não é fácil sustentar os dois seres responsáveis pelo sentido da minha existência, meus filhos Caio e Ravi, confesso que tenho utilizado meu escasso tempo “livre” para fazer leituras e escrever textos que, de uma forma ou de outra, têm o objetivo, além da formação do meu espírito, de me ajudar na superação de minha situação material imediata, o que tem deixado um pouco de lado a fruição de obras de arte.
No entanto, como não posso abrir mão da minha educação estética, pensei na seguinte solução: mensalmente fruir uma obra literária, um disco, uma história em quadrinhos e um filme (se possível, todas essas linguagens, se não, pelos duas), considerados clássicos pela crítica especializada, e compartilhar, também mensalmente, com vocês minhas impressões.

5)      CABEÇA BEMFEITA TV e RÁDIO CABEÇA

Na primeira fase do blog o audiovisual deixou muito a desejar, mais pela falta de domínio (na verdade, de tempo para aprender) da tecnologia do que uma opção deliberada.  Aproveito essa volta do Cabeça para começar a investir na abertura para a crítica e a reflexão feita por autores que usam o som e a imagem como meios de expressão.  A Cabeça Bemfeita TV e a Rádio Cabeça surgiram para minimizar a carência sentida na primeira experiência do blog.

Com relação a Cabeça Bemfeita TV, por enquanto, a programação que irá ao ar será feita automaticamente pelo youtube a partir de palavras-chave sugeridas por mim. A ideia é que em breve, assim que viabilizar os recursos tecnológicos e mergulhar mais na linguagem do audiovisual, o blog tenha na sua grade de programação produções próprias.   Dando início a programação, sugeri os conceitos norteadores do blog, filosofia, arte, tecnologia e comunicação.

Já a Rádio Cabeça surgiu para compartilhar com vocês o som que vem fazendo minha cabeça há mais de 20 anos. A ideia era abrir espaço só para o áudio, mas, pela minha limitação técnica, a saída foi postar as músicas através da tecnologia do vídeo. Aqui também a seleção específia das músicas será feita pelo youtube a partir das bandas ou cantores/cantoras sugeridas por mim. A seleção é bem diversificada e representativa das diferentes identidades musicais pelas quais passei até o presente momento.

Apesar da heterogeneidade (não se surpreendam em ouvir por aqui o jazz-rap do The Roots os experimentalismos sonoros de Hermeto Pascoal) de estilos com os quais me identifico, há uma característica que liga os artistas que serão destacados: todos, de uma forma ou de outra, demonstram uma postura crítica e reflexiva.

E para começar, duas bandas que me mostraram, quando eu tinha 12 anos, que a música pode ser um espaço de reflexão política, Plebe Rude e Public Enemy. Fechando a programação dessa primeira experiência da Rádio Cabeça, dois músicos que me indicaram novas possibilidades de estruturas sonoras, Frank Zappa e Hermeto Pascoal.  Espero que vocês curtam!


6)      Periodicidade das postagens

Até por ser uma atividade experimental, na primeira fase do blog não havia um intervalo fixo entre uma postagem e outra. Agora, visando sistematizar e organizar melhor meus estudos e reflexões, e também orientar a leitura dos seguidores e visitantes fortuitos, os textos terão a seguinte periodicidade:
a)      Todo domingo publicarei alguma coisa que, direta ou indiretamente, terá alguma relação com as áreas do conhecimento contempladas nas páginas FILOSOFAR, AISTHESIS, (CONS)CIÊNCIA E TECNOLOGIA e MÉDIA MÍDIA. Tanto posso publicar um ensaio, uma resenha crítica, um resumo de alguma obra, ou mesmo alguma dica cultural, como sites, livros, músicas, enfim, a ideia é ficar compartilhando com vocês um pouco do que for vivenciando nesse meu processo de construção de uma cabeça bem-feita;

Observações:

1)      Os problemas e conceitos específicos das áreas do conhecimento que forem citados nas postagens serão aprofundados nas respectivas páginas;

2)      O texto inaugural das publicações dos domingo será postado no dia 26/08/12 e fará alguma referência à filosofia e ao filosofar. Nos domingos subsequentes, arte (02/09), ciência e tecnologia (09/09) e comunicação (16/09), se sucederão como objetos de análise crítica das postagens e páginas do blog.

b)      Às quintas, começando no próximo dia 23/08, publicarei um novo texto (ou alguma dica cultural)  especificamente para os professores (principalmente aqueles e aquelas que não tiveram uma formação inicial adequada e nem dispõem de programas eficazes de formação continuada) que acompanham o blog poderem refletir sobre suas práticas e representações;

c)      Mensalmente, na página CLÁSSICOS DA VEZ, um texto trará minhas impressões sobre algumas obras fundamentais (sempre dentro das linguagens  que me sensibilizam mais profundamente, a música, a literatura, as histórias em quadrinhos e o cinema) para a formação do espírito humano. A partir da publicação do próximo dia 23/08, terei aproximadamente um mês para curtir as obras escolhidas e escrever sobre elas. Até lá! 

É isso aí, galera, o Cabeça está de volta e mais do que nunca conta com a sua participação para se consolidar como um espaço de reflexão e crítica da cultura, oferecendo uma alternativa de discussão e formação permanente para todo/toda livre pensador/pensadora que deseja, não acumular ou empilhar saberes, mas construir uma cabeça bem-feita.

Obrigado por dedicar seu precioso tempo para dialogar comigo!!! Um forte abraço e até quinta que vem!

Zebé Neto
filósofo, escritor e educador