segunda-feira, 15 de abril de 2013

Convite para uma práxis coletiva

Nota de esclarecimento:

O presente texto (apesar de sua inegável ligação) não faz parte da série que venho postando sobre o projeto de educação que penso ser adequado para meus filhos, Caio e Ravi, viverem suas vidas de forma crítica, criativa, reflexiva, livre e responsável. A terceira parte da Paideia a Caio e a Ravi será o próximo texto publicado. O de hoje, é antes uma tentativa de equilibrar e unificar minhas opções teóricas e minhas posturas práticas.  Foi escrito na manhã da segunda, dia 15/04, revisto e ampliado, na manhã e na tarde da terça, dia 16/04, para evitar leituras aligeiradas, equivocadas ou mesmo mal intencionadas. Com ele, também, gostaria de incluir meus parceiros e parceiras de trabalho escolar no debate que estamos levantando por aqui, que, em sintonia com os novos paradigmas profissionais, não se resume a educação, mas abarca outras manifestações culturais fundamentais para a formação integral do ser humano: filosofia, arte, ciência, tecnologia e comunicação. Sejam bem-vindos e bem-vindas, amigos e amigas da equipe Lubienska!

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Prezados e prezadas leitores do Cabeça, peço licença a vocês para utilizar esse espaço de reflexão e crítica para fazer um convite bem especial para os educadores e educadoras do Lubienska Centro Educacional (casa de educação que desde 1969 vem contribuindo para formar a elite pensante do Estado de Pernambuco) para construírem comigo o que venho chamando de Comunidade de Investigação Filosófica (CIF).

Tal conceito, inspirado nas comunidades de pesquisa científico-filosóficas e transposto para as escolas como método didático, já vem sendo vivenciado por mim no próprio Lubienska, já com bons resultados em apenas dois meses de trabalho - o que não é pouco, pois quem é educador sabe o quanto é difícil mudar a cultura escolar hegemônica, cuja "estrutura, seja ela espacial, dos currículos, dos programas e do tempo escolar (...) cristalizados pela rotina, pela burocracia, pelas repetições" (MEC, Ensino Fundamental de nove anos: orientações gerais), é difícil de ser mudada.

O objetivo não é outro senão juntar amantes do conhecimento e da sabedoria para pesquisar, coletivamente, sobre conceitos, temas, questões e problemas que têm dificultado o exercício de nossa profissão. Pensado juntos, podemos construir saídas criativas e inovadoras, também juntos. Sem falar que estou achando meio contraditório trabalhar dessa forma com meus estudantes e não com meus pares. Daí minha iniciativa. 

Parafraseando o velho e bom Marx, que disse que "os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de várias formas; cabe transformá-lo", digo que, nós, que trabalhamos com educação já construímos muito bem o discurso sobre o novo paradigma de educação, cabe, agora, transformar o modelo ainda hegemônico e apresentar propostas efetivas. É isso que estou fazendo!

Em sintonia com as tendências filosóficas e pedagógicas da atualidade e com base numa leitura rigorosa e sistemática da LDB, dos diversos PCNs, Diretrizes Curriculares Nacionais, Pareceres e Resoluções, num diálogo crítico e reflexivo com alguns dos principais pensadores da atualidade e, principalmente, no Projeto Político Pedagógico do Lubienska Centro Educacional, acredito ter chegado a uma maturidade intelectual, moral e política (apesar de não ter ainda o peso do mestrado ou doutorado que, como sabemos, agregam poder aos discursos e legitimam ações, e de ainda estar em pleno início de minha trajetória) para sair do isolamento de minhas reflexões (o que, aliás, já venho fazendo, aqui, no Cabeça) e instigar os/as que compartilham comigo a responsabilidade de fazer parte da equipe Lubienska para revisitarmos e revermos os valores e ideias (e ideais) que fundamentam nossos sistemas moral e político.

Com base na minha experiência como filósofo e como “professor profissional” (categoria que eu já era, mas que Tardiff, no livro “Saberes docentes e formação profissional”, leitura recente para o mencionado processo seletivo, me explicou com mais detalhes) "tô" dando uma guinada na minha vida e vou, agora, no final de abril e início de maio, abraçando o empreendedorismo e o conceito de “economia criativa”, lançar, com o apoio de vários colaboradores/colaboradoras, ligados/ligadas as mais diferentes linguagens e campos de atuação, o mais novo portal de educação na web: o P.E.TEC.A. (Portal de Educação Tecnológica e Artística), uma confluência de reflexão, crítica e produção cultural, formação continuada, análise, revisão e escrita de currículos inovadores e projetos pedagógicos (os famosos PPPs, que, na maioria das vezes, são apenas documentos engavetados, sem ressonância nas representações e práticas cotidianas dos responsáveis por efetivá-los) e produção de oficinas diversas.

Vou ficando por aqui, pois logo mais começo de fato o projeto que, se tudo der certo, apontará para o modelo de educação que, não se enganem, amigos e amigas professores e professoras, se tornará comum nas escolas (falo dos princípios filosóficos e pedagógicos, e não do meu projeto específico, singular, datado e imperfeito), não agora, é claro (quem sabe na metade do século, pois as mudanças na educação formal é muito lenta, devido ao seu conservadorismo), pois o caminho é árduo e espinhoso, mas libertador e prazeroso, no final. Comecemos a dar os primeiros passos, então!

Leitores e leitoras do Cabeça, aguardem, pois ainda essa semana publico a terceira parte da Paideia a Caio e a Ravi (se as inúmeras atividades deixarem!), série de postagens que venho publicando e que trazem o esboço inicial do projeto de  formação humana que venho desenvolvendo para meus filhos e que já comecei a experimentar no Lubienska. Amigos e amigas de profissão, gostaria muito que vocês (e a própria instituição) aceitem o convite que, em público, faço para que formemos uma comunidade aprendente, germe  de um núcleo de discussão e prática sobre as novas perspectivas pedagógicas para, juntos, navegarmos por mares nunca antes navegados. 

Vale lembrar que a própria instituição, assumindo sua tradicional postura de vanguarda, se mostra aberta para as mudanças que vêm sendo exigidas desde o final do século XX e que, timidamente, começam a chegar em alguns espaços. Exemplo disso é a parceria firmada com a educadora Andrea Castro, que, com grande competência, vem preparando a equipe para um trabalho fundamentado em novas perspectivas teóricas e metodológicas. 

Assumindo meu compromisso com a postura crítica e reflexiva, enfim, filosófica,  fica, então, meu convite para uma práxis (união indissolúvel entre teoria e prática) coletiva: organizemos uma Comunidade de Investigação Filosófica entre nós, professores e professoras, coordenadoras e diretoras do Lubienska, para, primeiro, e mais fundamental de tudo, que possamos nos conhecer melhor como pessoas (uma vez que estudos mostram que nas experiências bem sucedidas, no diz respeito à propostas inovadoras, as equipes que conduzem o processo mantêm outras relações além das profissionais, como laços afetivos e ideológicos), e, segundo, para que possamos criar, coletivamente uma proposta fundamentada na interdisciplinaridade, no desenvolvimento de competências e habilidades reflexivas, no trabalho com situações-problema, na educação da sensibilidade e na adoção de eixos temáticos para cada série do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. 


Sem medo de errar, pessoal: vai ser muito difícil encontrar nas escolas do Estado de Pernambuco (permitam-se a ousadia: até na Academia), seja da rede pública ou privada, encontrar sujeitos que estejam trabalhando dentro da perspectiva do professor reflexivo ou intelectual transformador da realidade, como defendem pensadores importantes, como Philippe Perrenoud, Isabel Alarcão, Henry Giroux e Edgard Morin (alguns dos amigos e amigas com os quais venho dialogando). Se esse é o seu caso ou se conhece alguém que trabalhe dentro desses princípios, por favor, entre em contato comigo!

Eu, Zebé Neto, com todas as dificuldades, dúvidas, incertezas e medos (como já tive uma diretora que não entendeu direito meu movimento e quis me demitir por justa causa uma vez, porque, dentro da visão fantasiosa da mesma, eu teria influenciado os/as estudantes para agredirem-na e a escola, o que de fato nunca ocorreu, pois, acima de qualquer coisa o filósofo deve ser ético e ter compromisso com a verdade, fico com um certo pé atrás... mas vamos em frente!), mas também com coragem, pois não é tarefa das mais simples escolher o caminho mais difícil,  venho paulatinamente assumindo-me como partidário dessa postura epistemológica, profissional e pessoal citada acima e, a partir da publicação de hoje, atuarei como  militante para multiplicar a concepção do professor e da escola reflexivos.

De qualquer forma,  meu receio é infundado, é como que um resquício de meu pertencimento a categoria dos oprimidos, pois não estou fazendo nada mais do que corroborando os "princípios filosóficos do trabalho escolar", como podemos ler no PPP Lubienska: "favorecer a inserção dos alunos e alunas na sociedade de maneira consciente, crítica e criativa"; "contribuir para o desenvolvimento individual e coletivo no sentido da construção as diversas identidades"; "expressar-se com liberdade, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber"; "favorecer o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas"; "favorecer a vida cooperativa e a gestão colegiada"; "favorecer o conhecimento científico e tecnológico, integração de saberes e a resolução sustentável de problemas". Quem quiser conferir a forma que encontrei para desenvolver esses princípios é só dar um conferida em dois blogs criados por mim para trabalhar com as quintas e sextas séries do fundamental: Teia do Conhecimento: Cultura e Teia do Conhecimento: Meio Ambiente.

Enfim, assim como Deleuze, considero a função da filosofia criar conceitos. Como para isso é preciso inventar problemas, outra coisa não tenho feito senão inventar, ou seja, em colocar os problemas sobre os quais passarei o resto da minha vida tentando formular conceitos. Apenas não quero fazer isso mais isoladamente (o isolamento, tanto sistêmico quanto pessoal, é um dos principais problemas da educação). Se alguém quiser me acompanhar nessa trajetória, será um prazer! 

Quanto as programações da Cabeça Bemfeita TV e da Rádio Cabeça, permanecem as da postagem anterior, pois, tanto Foucault, quanto Pink Floyd, cada um do seu modo, se fazem presentes na minha postura. Só como aperitivo da programação da Cabeça Bemfeita TV da próxima postagem, fiquem com o vídeo A escola é um saco (valeu a dica, Veloso) produção que sintetiza bem tudo que penso e venho fazendo como educador. Espero que gostem!




Grato pela atenção e vamos nos falando, ou melhor, dialogando!

Zebé  Neto
filósofo e escritor

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