segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rede Globo: cinismo com os moradores de “avenida” no Brasil

Hoje seria o dia em que começaria a movimentar a página (CONS)CIÊNCIA E TECNOLOGIA, mas não posso deixar de me posicionar diante do cinismo da Rede Globo de Televisão em uma reportagem exibida no último sábado, dia 20, no Jornal Nacional, que falava da repercussão do último capítulo do folhetim Avenida Brasil.

Depois de mostrar que o Brasil parou em frente à televisão para ver o último capítulo da novela Avenida Brasil, destacando "ruas e avenidas vazias em todo o país" (datalhe: para a Globo "todo o país" se resume à São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Manaus, Pará, Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte), o repórter Flávio Flachel nos apresenta Dona Isabel que “não tem sala, não tem casa. Mora na rua, em Porto Alegre. Mas fez questão de juntar um dinheirinho para comprar uma TV e acompanhar até o fim, na calçada, toda a história daquele povo do lixão.”

Prezado leitor, prezada leitora, não é que a Globo conseguiu me surpreender. Tudo bem dizer que em São Paulo e no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, “teve gente pedindo pra trocar o som da banda (nos bares) pelo áudio da TV”, ou mesmo que “o corre-corre habitual do aeroporto de Congonhas teve pausa obrigatória onde houvesse imagem, onde estivesse passando a novela que encantou o país”, mas utilizar cinicamente  uma senhora cuja situação sócio-histórica degradante é consequência da desigualdade na distribuição das riquezas do país, que tem nos meios de comunicação de massa sua justificativa ideológica, é “tirar onda” com a nossa cara!

Para dar uma fundamentada na minha crítica à postura ideológica da Rede Globo em defesa do status quo, através do Jornal Nacional, pesquisei alguma coisa sobre o gênero televisivo telejornal. No livro Temas de Filosofia, as autoras, Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, dizem que os telejornais “não são neutros, objetivos ou imparciais, mas deixam sempre uma brecha para que o público confronte as vozes ouvidas (às vezes contraditórias) com suas outras fontes de informação e suas experiências pessoais.” (ARANHA, M.L. e Martins, M. H.. Temas de Filosofia. 3. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p. 66).  

Pegando uma carona na brecha deixada pela fala do repórter no final da matéria, que dizia que “Avenida Brasil terminou com a mensagem de que é possível perdoar, ir além”, finalizo confrontando a voz do repórter (que na verdade traduz o discurso ideológico da Globo),  com uma leitura crítico-reflexiva da mídia, através das seguintes indagações:

Não estaria a Rede Globo, com produtos como Avenida Brasil, a estimular, via catarse coletiva, o “perdão”, ou seja, o “esquecimento”, da exploração econômica e da exclusão social a que boa parte da população está submetida?

Como diz o repórter, até Adriana Esteves “chorou vendo o fim da novela.” Não estaria na hora do brasileiro começar a chorar porque pessoas como Dona Isabel não têm casa para morar e porque gigantes da comunicação, como a Rede Globo, essa realidade insistem em camuflar?

 
Zebé Neto
filósofo, escritor e educador
 
 
 
p.s.
 
1) Quem quiser conferir, a matéria citada na postagem está disponível em http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/10/brasil-para-no-ultimo-capitulo-de-avenida-brasil.html;
 
2) A programação da Cabeça Bemfeita TV e da Rádio Cabeça é a mesma da última postagem;

3) Na página MÉDIA MÍDIA, vocês encontram um texto das professoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helana Pires Martins sobre gêneros televisivos. 
 

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