Nas postagens trarei sempre alguma questão do cotidiano relacionada às áreas de interesse do blog. Nas páginas específicas aprofundarei os conceitos relacionados às áreas referidas nas postagens. Por exemplo, hoje o texto faz referência à filosofia. Isto significa que, na página FILOSOFAR alguns conceitos ligados a esta área do conhecimento serão aprofundados.
E dentro do espírito da Cabeça Bemfeita TV, a programação acompanhará as palavras-chave da postagem. Espero que os vídeos sejam interessantes (como já falei, a seleção é automaticamente feita pelo youtube a partir das palavras que sugiro, por isso, vocês poderão encontrar verdadeiras pérolas, ou produções sem maiores qualidades estéticas ou aprofundamento temático).
Já a programação da Rádio Cabeça vem trazendo uma rapaziada que tematizou a questão da cidadania nas suas canções. Rage Against the Machine, Devotos, The Roots e The Clash se alternarão na programação da sua Rádio Cabeça.
Agora sim, fiquem com a primeira postagem dos domingos. Quinta-feira eu volto com mais uma reflexão sobre educação na página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA. Até lá!
(Observação: Esta postagem foi originalmente publicada domingo, dia 26, e revista e ampliada no dia 28 de agosto de 2012)
***
Sem filosofia, sem cidadania
No presente texto, defenderei a ideia que se não desenvolvermos as competências filosóficas que uma educação para o filosofar pode ajudar a desenvolver, ficaremos sempre aquém do exercício pleno da cidadania.
Semana passada enquanto preparava uma aula para um cursinho com o qual colaboro aqui no Recife (o nome da instituição é "Os mestres", mas eu só tenho graduação!), me veio a ideia para esta primeira postagem das reflexões dominicais que pretendo manter com vocês, prezado leitor, prezada leitora, sobre filosofia, arte, comunicação, ciência e tecnologia.
Levando em consideração a lição kantiana que não se ensina filosofia, mas a filosofar, resolvi compartilhar com a turma as competências filosóficas conforme constam nas orientações curriculares nacionais de Filosofia para o ensino médio, volume dedicado às Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Voltando minha atenção pra galera que
estuda no cursinho acima citado, ponderei: possivelmente, parte considerável da
turma não desenvolveu no ensino médio as competências filosóficas consideradas
fundamentais para o exercício da cidadania. Mesmo conseguindo alcançar sua
aprovação, qual será a qualidade da cidadania desses futuros profissionais?
Me pareceu ser bem pertinente discutir sobre a importância da Filosofia para a construção de sujeitos capazes de vivenciar plenamente seus direitos e deveres. É isso que passo a fazer a partir de agora.
Primeiro falarei sobre cidadania, depois,
trago algumas considerações sobre filosofia e, finalizo, defendendo que esta é
condição necessária para o exercício daquela.
A cidadania
A cidadania, fundada nos valores de liberdade e democracia, é uma conquista recente. A palavra cidade (em latim civitas, civitatis), por volta do século XIII, deu origem ao termo cidadão para se referir aos indivíduos que abandonavam os campos e se dirigiam às cidades.
“No
entanto, os ideais democráticos, que para o próprio liberalismo estavam na base
de seus valores, nem sempre se expressaram de maneira extensiva, por se
restringirem aos indivíduos de posse, com exclusão do restante.” (ARANHA, 2008, p.180) O voto,
por exemplo, até o século XX era um privilégio dos proprietários. Só no século passado é que pobres, mulheres e
analfabetos ganharam o direito de votar.
A
gradual conquista de direitos também ocorreu devido à luta organizada da
sociedade civil através de diversos movimentos sociais, como o dos
trabalhadores, mulheres, minorias étnicas, e outros segmentos que sofriam (e
ainda sofrem) discriminação.
Algumas
reivindicações da sociedade civil organizada foram codificados em diversos
documentos, entre os quais destaca-se a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, documento elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, “e
que em seus trinta artigos estabelece parâmetros a respeito da defesa dos
direitos do cidadão.” (Idem, p. 180)
Vale
lembrar que nas democracias ocidentais, de orientação capitalista, ter o direito é diferente de exercê-lo, pois há dois aspectos da
democracia que devem ser considerados: o formal e o substancial. A democracia formal caracteriza-se pela
presença de instituições que caracterizam tal regime: sufrágio secreto e
universal, autonomia dos poderes executivo, legislativo e judiciário,
pluripartidarismo, liberdade de pensamento e expressão, etc. Por sua vez, a democracia substancial diz respeito aos
fins alcançados, ou seja, se de fato a maioria da população tem acesso aos
direitos consubstanciados nas “constituições democráticas”.
“Desse
modo, é preciso reconhecer que nem toda população dos países ditos democráticos
é constituída por cidadãos plenos, uma vez que muitos não usufruem daqueles
direitos já referidos” (Idem, p. 181)
Infelizmente,
o Brasil é um exemplo de democracia formal, pois, mesmo havendo a recuperação
das instituições necessárias para a experiência democrática após vinte anos de
ditadura militar, pouca coisa mudou com relação à distribuição dos bens materiais
e simbólicos. É só observarmos os índices brasileiros e logo constatamos que
cerca de 2/3 da riqueza nacional está nas mãos de aproximadamente 10% da
população.
Numa realidade como esta, desigual e injusta, o nível de participação na construção e divisão dos bens materiais e simbólicos está, no meu entender, diretamente relacionada à capacidade do indivíduo em compreender o contexto social-econômico-político no qual está inserido, através de uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre a realidade natural e humana, apresentando soluções criativas quando a situação o exigir.
Sem medo de errar, afirmo que a grande maioria da população brasileira que concluiu o ensino médio (aqui mim incluo, prezado leitor, prezada leitora, e a maioria de vocês) não desenvolveu competências filosóficas básicas para o pleno exercício da cidadania.
Sendo assim, concluo esta primeira parte do texto "Sem filosifia, sem cidadania", dizendo que: a maioria da população brasileira ou não exerce de fato a cidadania, ou, quando o faz, seu exercício fica aquém das possibilidades que poderia atingir se as competências filosóficas que a educação básica deveria ter ajudado a construir tivessem sido assimiladas criticamente.
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