quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Formação continuada: o resultado demora, mas chega!


Amigo, leitor, amiga, leitora, do Cabeça Bemfeita, hoje é um dia muito especial para mim. Logo mais à tarde acontecerá um encontro que venho imaginando há aproximadamente quatro anos, quando, depois de uma profunda crise (existencial e profissional), resolvi reagir e mudar de postura.

Serei recebido por Maria Maciel e Cândida Galvão, duas das diretoras do Instituto Helena Lubienska, escola pernambucana com reconhecidos serviços prestados à nossa cultura. Junto à Diretora Pedagógica, Rozário Azevedo, abriremos uma roda de diálogo reflexivo para falarmos sobre educação. Finalmente, depois de muito procurar, encontrei uma casa de educação que se mostra aberta ao diálogo.
 
Por uma feliz coincidência, hoje também é dia das publicações destinadas à nossa formação continuada. Vou aproveitar esse acontecimento para falar sobre a importância do estudo permanente para quem deseja superar sua condição histórico-social e, consequentemente, deixar de ser um mero técnico executor de tarefas rotineiras e repetitivas e se transformar num intelectual transformador da realidade.

Quem acompanha o blog sabe o quanto já falei sobre meu histórico de limitações e medos. Lá em 2008, quando rompi com a escuridão e a ignorância, minhas frustrações, inseguranças e dúvidas passaram de inibidores da minha autoestima e criatividade para “detonadores” da minha busca por saber.
 
Ora, se já temos todas as respostas, por qual razão estudar? Agora, se nos percebemos ignorantes e não conhecemos ao certo o que nos causa medo e nos paralisa, é porque está na hora de buscar o conhecimento. Foi isso que comecei a fazer.
 
Quando percebi que minhas frustações e insucessos decorriam em grande parte da minha formação inicial descurada (chamo de formação inicial a educação básica mais a graduação), tomei uma decisão que mudaria para sempre minha vida: assumi minha ignorância e tomei a condução do meu próprio processo de formação.
 
Meus estudos (esporádicos e ametódicos no início) foram, aos poucos, ampliando minha consciência sobre o mundo, as pessoas e, principalmente, sobre mim mesmo. Passei a compreender a importância política da docência e percebi como a Filosofia, área na qual havia me “formado”, poderia ajudar  na travessia que precisava fazer (aliás, uma travessia que todos nós, formados nos valores da sociedade industrial temos que fazer, se não quisermos nos sentir “estrangeiros” no nosso próprio tempo, afinal como diz o filósofo Paulinho da Viola: “meu tempo é hoje”!) do modelo tradicional para as perspectivas mais atuais em educação.
 
Reconheço que não é nada fácil assumir uma postura crítica e reflexiva numa sociedade hierárquica como a nossa, onde somos “educados” para obedecer e não discutir as regras impostas de cima para baixo por grupos minoritários de burocratas.

Eu mesmo passei por alguns dissabores. Fui demitido de duas escolas que se mostraram inábeis para encarar um diálogo sincero, verdadeiro, rigoroso, mas, acima de tudo, afetuoso (não nos esqueçamos que, desde a Grécia, o diálogo filosófico é realizado por amantes do conhecimento). Inclusive, como já falei por aí no blog, fui perseguido em uma delas, sendo acusado, leviana e injustamente, de “promover guerra virtual” contra a escola, o quê, de fato, nunca aconteceu.

As frequentes quedas só fizeram me fortalecer. Passei quase um ano desempregado, sem dinheiro, pois minha conta do FGTS fora retida, já que a dona do estabelecimento em questão tentara me demitir por justa causa, porque teria eu, quase que como um Sócrates contemporâneo, “corrompido a juventude”, ou seja, colocado os estudantes contra a escola. Bem, algo lamentável (até porque partiu de quem conduz uma casa responsável por formar várias “cabeças bem-feitas” aqui do Recife, mas, que, por falta de humildade intelectual e afetiva, e movida pelas paixões, jogou fora décadas de bons serviços prestados), mas que deve ser registrado para que fatos como esses não voltem a acontecer num espaço que deveria ser democrático, qual seja, a escola.

Mas, apelando agora para a velha e boa sabedoria popular, não há nada como um dia após o outro.

Aproveitei o nascimento do meu primeiro filho há dois anos, Caio, para também renascer junto com ele. Logo na sequência chegou Ravi, meu segundo filho, e com ele meu renascimento se completou. São esses caras, amigo, leitor, amiga, leitora, que têm me dado força para continuar firme depois de tantos infortúnios.
 
O baque foi grande, mas não fraquejei. Aproveitei o período em que fiquei desempregado para finalmente sistematizar e organizar minhas reflexões. Meus estudos ficaram mais rigorosos, passei a desenvolver métodos de pesquisa, comecei a realizar leituras críticas e fazer os necessários fichamentos e esquemas de estudo (procedimentos, aliás, que todo aquele que produz informação e conhecimento deve ter).  

Hoje, depois de tantos infortúnios, sou uma pessoa melhor e mais feliz (apesar da dimensão material não acompanhar, ainda, o crescimento simbólico-afetivo), além de ser um profissional mais competente do que era quando tudo isso começou.
 
O encontro que terei logo mais pode frustrar todas as minhas expectativas (o que considero difícil, pois a leitura que fiz do Projeto Político Pedagógico da escola apontam nossas afinidades), que é a de colocar à disposição da escola aquilo que sei fazer de melhor: acompanhar a ação pedagógica, crítica e reflexivamente, promovendo a passagem "de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma educação sistematizada (alçada ao nível da consciência filosófica)" (SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo, Cortez, 1980, p. 54)
 
A única certeza que tenho é: se não tivesse decidido romper lá atrás com minhas limitações e medos e investido com tudo na minha formação continuada, não estaria escrevendo esse texto agora, nem sentido um friozinho na barriga por estar, daqui a pouco, sugerindo para grandes nomes da educação pernambucana uma proposta de construção de uma escola reflexiva, conforme defendem estudiosos da educação contemporânea, como Phillipe Perrenoud, Edgard Morin (citados, inclusive, no P.P.P. da escola), Henry Giroux e Isabel Alarcão.  
 
Bem, é isso! Vou correndo agora preparar o texto da página FORMAÇÃO (DES)CONTÍNUA. E hoje, como falei em Projeto Político Pedagógico, publico o ponto 6.4.1., das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Basica, documento de 2010, que traz orientações sobre como deve ser o projeto que conduz as representações e práticas dos estabelecimentos escolares.
 
Um forte abraço e continuemos a nos autoeducar!
 
 
Zebé Neto
filósofo, escritor e educador
 
  

  

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