sexta-feira, 13 de abril de 2012

Formação e condição docente

Quarta-feira, dia 11, postei a segunda parte de um texto que venho escrevendo sobre três identidades através das quais tenho tornado minha vida mais significativa. É como filósofo, escritor e educador que venho deixando de ser um “ser-em-si” (um ser sem consciência de si ou do mundo) para me tornar um “ser-para-si” (um ser com conhecimento a respeito de si e do mundo).
O momento que vivo hoje, de criação e não mais de reprodução e alienação, como já falei aqui no blog, começou em 2007, quando uma profunda crise (existencial e profissional) me fez rever toda minha vida: minhas ideias, comportamentos, sentimentos, desejos, vontades.
É claro que ninguém supera sua condição sócio-histórica de uma hora para outra. Já são quase cinco anos de investimento e só agora o resultado começa a aparecer. Hoje desenvolvo um projeto pedagógico autoral, o Teia do Conhecimento  (sistema integrado de método de ensino-aprendizagem, material didático virtual e físico, além de abrir espaço para formação permanente, com foco na inter e transdisciplinaridade, no trabalho com situações-problema e no desenvolvimento de competências e habilidades).
Também estou desenvolvendo um outro projeto, batizado provisoriamente de “Cartilha Tecnológica”, que está na fase de pesquisa bibliográfica. A ideia é escrever um material de apoio pedagógico voltado para professores e alunos, contendo reflexões sobre o impacto das novas tecnologias da informação e da comunicação sobre a educação, além de dicas de possíveis usos das ferramentas tecnológicas em sala de aula.
Recentemente, numa parceria com o pessoal da Livrinho de Papel Finíssimo Editora, escrevi uma cartilha pedagógica para a TRANSPETRO-PETROBRAS. Nela, pude estrear como roteirista e quadrinhista.
           Além disso, edito e publico quatro blogs: esse, ao qual você está dedicando seu precioso tempo, e mais três voltados para as turmas com as quais trabalho no Instituto Helena Lubienska e na Escola Internacional de Aldeia.
          E não para por aí: estou escrevendo dois roteiros para curtas-metragens e em breve, assim que dominar a técnica de gravação de áudio, espero gravar minhas experiências musicais.
          Quem não me conhece poderia achar que estou dizendo tudo isso para me vangloriar. Não poderia estar mais enganado quem assim pensasse. Na verdade, estou dizendo tudo isso para mostrar que, apesar das dificuldades pelas quais todos nós passamos, podemos encontrar caminhos alternativos para superarmos a crise que dilacera a existência do homem contemporâneo.
          Severino Antônio, Doutor em Educação e professor doutor do Mestrado em Educação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, autor de um livro que me ajudou bastante nessa minha mudança de perspectiva, "Educação e Transdisciplinaridade", diz que:

                           “para atravessar a perda mortal de sentido, que tem desfigurado as relações educativas, é preciso reencantamento. É preciso redescobrir e recriar significação: não apenas como ideias, conceito ou exercício intelectivo, mas como experiência vivida. [...] É necessário religar aprendizagem e vida. Refazer a relação lúdica. Reeducar a sensibilidade, tanto a percepção quanto os sentimentos. Motivar a imaginação inventiva. Seduzir a razão. (ANTÔNIO, Severino. Educação e Transdisciplinaridade: crise e reencantamento da aprendizagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 24-25)   

         Ultimamente tenho redescoberto e recriado significações, principalmente, como diz Severino, como experiência vivida. Paulatinamente, venho construindo minha identidade, configurando uma imagem mais clara sobre mim e o mundo, desenvolvendo uma linguagem própria e uma relação pessoal com as ideias. Ora, o que é esse blog, se não um exemplo disso? 
         Aproveitando esse meu momento, publicarei uma série de textos sobre o perfil do professor do século XXI. Para tanto, procurarei articular minha experiência profissional a um estudo sistemático que venho realizando sobre o ofício de professor, uma vez que pretendo pesquisar no mestrado as práticas e representações docentes.
          Essa é uma forma que encontrei para ajudar a categoria a qual pertenço, cujo lema da campanha 2012 é “Identidade, dignidade e valorização”. Espero contribuir para que meus colegas possam repensar suas “identidades” num momento de incertezas e instabilidade, comuns na sociedade atual.
          Minhas reflexões serão fundamentadas principalmente pela corrente de pensamento que defende a figura do professor como intelectual transformador da realidade ou o professor reflexivo, notadamente Henry Giroux, Philippe Perrenoud e Isabel Alarcão.
        Para inaugurar minhas considerações sobre a identidade do professor contemporâneo, deixo com vocês as qualidades que o professor deve possuir, segundo o Parecer nº 5/2011, do Conselho Nacional de Educação (CNE) e da Câmara de Educação Básica (CEB), item 6.4, aprovado em 04/05/2011, que fala da formação e condição docente.
           São poucos os professores e instituições que se dedicam a uma leitura crítica dos documentos oficiais que regulam a educação em nosso país. Por isso mesmo, tenho procurado me informar sobre os aspectos legais da educação, uma vez que a qualidade do nosso trabalho passa pelo “conhecimento e aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos níveis e modalidades da Educação Básica”.

FORMAÇÃO E CONDIÇÃO DOCENTE


           Segundo o Parecer nº 5/2011, do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica, no item 6.4. (Formação e condição docente), as novas orientações educacionais têm colocado para os profissionais da educação novas tarefas no que se refere às suas práticas, exigindo que o professor “seja capaz de articular os diferentes saberes escolares à prática social e ao desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho.” Dessa forma, “é necessário repensar a formação dos professores para que possam enfrentar as novas e diversificadas tarefas que lhes são confiadas na sala de aula e além dela”.
         Com relação à “função docente e a concepção de formação que deve ser adotada nos cursos de licenciatura”, há os que defendem “uma concepção de formação centrada no ‘fazer’ enfatizando a formação prática desse profissional e, de outro, há quem defenda uma concepção centrada na ‘formação teórica’ onde é enfatizada, sobretudo, a importância da ampla formação do professor”.
          No entanto, o Parágrafo único do art. 61, da LDB, ao estabelecer os fundamentos da formação dos profissionais da educação, preconiza a articulação entre teoria e prática.
          Segundo as diretrizes indicadas no I Plano Nacional de Educação 2001-2010, as qualidades esperadas dos professores, são:
I sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos;
II ampla formação cultural;
III atividade docente como foco formativo;
IV contato com realidade escolar desde o início até o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica;
V pesquisa como princípio formativo;
VI domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade para integrá-las à prática do magistério;
VII análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia;
VIII inclusão das questões de gênero e da etnia nos programas de formação;
IX trabalho coletivo interdisciplinar;
X vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática do ensino;
XI desenvolvimento do compromisso social e político do magistério;
XII conhecimento e aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos níveis e modalidades da Educação Básica. 

          O texto segue falando sobre o Projeto de Lei que propõe o II Plano Nacional de Educação, para o decênio 2011-2020,  o qual prevê a valorização dos profissionais da educação, incluindo o fortalecimento da formação inicial e continuada dos docentes.
       O ponto 6.4. termina trazendo a observação de que “a discussão sobre a formação de professores não pode ser dissociada da valorização profissional, tanto no que diz respeito a uma remuneração mais digna, quanto à promoção da adequação e melhoria das condições de trabalho desses profissionais."
                                                          ***

          Na próxima semana, apresento um comentário crítico sobre as qualidades do professor contemporâneo sugeridas  no item 6.4., do Parecer 05/2011, do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica. Até lá!


Zebé Neto
filósofo, escritor e educador

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