Prezada leitora, prezado leitor do Cabeça, sair do estado de alienação é mais difícil do que imaginava. Está sendo muito árduo o caminho de saída da "caverna" (como Platão, aliás, já alertava na República). Daí a demora em publicar a quarta parte da Paideia a Caio e a Ravi. Espero que na próxima saia!
E por falar em alienação, o texto "Na contramão da história" traz a ideia de que os representantes das escolas particulares de Pernambuco (sem tirar a responsabilidade dos professores por sua própria formação) são responsáveis direto pela alienação e aviltamento da atividade docente ao negar as condições mínimas de trabalho.
Noite do Desbunde Elétrico: movimentando a cena "udigrudi" do Recife |
Tem problema não, amiga professora, amigo professor: mesmo que a classe patronal não queira que aumentemos nossa bagagem cultural (vejam a negação dos representantes dos donos de escolas em oferecer para o corpo docente assinaturas de jornais e revistas), aqui no Cabeça vocês tem acesso ao melhor da produção cultural pernambucana através da Cabeça Bemfeita TV e da Rádio Cabeça. Na programação da primeira, os curtas "Alma cega" (Camilo Cavalcante) e "Recife frio" (Kleber Mendonça) e longa-metragem "Febre do Rato", de Cláudio Assis. Já na Rádio Cabeça, o som de D Mingus, Juvenil Silva e Zeca Viana.
Espero que vocês curtam os filmes, as músicas e o texto que segue abaixo. Valeu a atenção e com vocês:
Na contramão da história
Espero que vocês curtam os filmes, as músicas e o texto que segue abaixo. Valeu a atenção e com vocês:
Na contramão da história
A campanha salarial 2013 da categoria dos professores da rede privada de Pernambuco vai chegando ao
fim e mais uma vez o filme se repete: a classe patronal se recusa a promover
melhorias nas condições de trabalho das professoras e dos professores da Rede Privada. Na
verdade, melhor seria dizer “atenuar as condições precárias”, porque nenhum
professor vai “melhorar” sua condição de trabalho com o mínimo que foi pedido (e
negado pelos patrões).
Entre
as principais reivindicações temos: manutenção dos
direitos conquistados, unificação dos pisos em R$ 12,00 por hora/aula, reajuste
do salário em 10%, vale alimentação para professores com dois turnos na mesma
escola, bonificação de 30% para aquisição de livros na Bienal do Livro de
Pernambuco, assinatura de jornais e revistas nas salas dos professores, convênios
e planos de saúde para os professores.
Sabemos que a desvalorização e o aviltamento aos quais
historicamente os profissionais docentes são submetidos, desde os
séculos XVII e XVIII, quando as escolas como conhecemos hoje começaram a ser
configuradas, até os dias atuais, não serão apagados com atendimento a essas
(apenas básicas) exigências, no entanto, a luta dos trabalhadores, inclusive
com a decretação de greve na última quarta (29/05), tem uma função simbólica:
mostrar que somos professores com orgulho e exigimos respeito!
Além de ser um contrassenso não investir
nas condições de trabalho e formação continuada dos professores, uma vez que
esses são os protagonistas na construção de propostas de ensino e aprendizagem
significativas, a postura da classe patronal mostra-se não muito inteligente e
em descompasso com a organização do capitalismo em sua fase atual, Capitalismo Informacional (ou do Conhecimento), marcado pela acumulação através da aplicação do conhecimento; intensificação da globalização da economia; aceleradas inovações tecnológicas (transportes, telecomunicações, informática, robótica, biotecnologia, etc), "neoliberalismo"(Estado "mínimo"), especialização da mão-de-obra, entre outras características.
Atualmente, as empresas mais bem
sucedidas e líderes nos seus setores, são aquelas que investem na qualidade de
vida dos seus “colaboradores” (eufemismo neoliberal para “empregado” ou
“funcionário”). Um trabalhador, visto a
partir de sua dignidade humana, sendo reconhecido pela importância do papel que
exerce, tendo voz para propor saídas criativas quando a situação adversa assim
o exige, recebendo com justiça pelo trabalho que executa, produziria muito mais
(gerando um trabalho de melhor qualidade e, consequentemente, mais lucro para
as escolas), pois mais motivado a buscar a excelência da sua atividade.
Como no Brasil as coisas só chegam com
atraso, agora é que nossos empresários da educação estão na fase do capitalismo
mais selvagem. E haja exploração e mais-valia, não só pelos baixos salários que
recebemos, mas, principalmente, pelo “trabalho oculto” que não entra na
remuneração (só recebemos por aqueles 50 minutos que temos para construir
situações de aprendizagem com nossos/nossas estudantes, ficando de fora as
horas de pesquisas, leituras, fichamentos, planejamentos, concepção de
atividades significativas, preparação de avaliações, correção das mesmas,
preenchimento de cadernetas e relatórios diversos, preparação de material
diferenciado, de acordo com as singularidades das/dos estudantes...)
É, senhoras patroas e senhores patrões, do jeito que está, logo logo, não restará nem mais professores para serem explorados. Para a classe patronal não ficar na contramão da história, não estaria na hora de se inspirar e seguir o exemplo das empresas capitalistas de ponta, que continuam explorando, mas
dão uma condição de vida melhor aos seus “colaboradores” (ou melhor,
“empregados”) para que esses possam produzir mais e melhor, aumentando, consequentemente, os lucros potenciais que uma educação de qualidade pode representar?
Zebé Neto
filósofo, escritor e professor de
filosofia
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